Punch Drunk Movies


Punch Drunk Movies

I have come here to chew bubble gum and kick ass... and I'm all out of bubble gum.

quinta-feira, junho 30, 2005

Filme Pinot Noir

Sideways (idem, 04)

Paul Giamatti and Thomas Haden Church in Fox Searchlight's Sideways

Uma das coisas que mais gosto no trabalho de Alexander Payne é a forma como ele constrói seus personagens. Nos três filmes que assisti da sua filmografia (“Eleição”, “As Confissões de Schimidt” e, agora, “Sideways”), fica claro que ele gosta mesmo de trabalhar em cima de personagens que são completamente fracassados na vida. Em “Eleição”, o protagonista é o professor que todos os alunos gostam, mas, de repente, ver sua vida desmoronar; em “As Confissões de Schimidt”, Jack Nicholson vive um homem que não possui muitos motivos para viver, principalmente depois que sua mulher vem a morrer e sua filha está prestes a se casar com um homem que ele não gosta; mas acho que os personagens mais interessantes criado por Payne (juntamente com seu amigo Jim Taylor) são justamente Miles e Jack. Assim como “Sideways” é o seu melhor filme.

Miles (Paul Giamatti) é um professor de inglês, aspirante a escritor, que ama vinhos e que vive em uma profunda depressão depois que o seu casamento acabou. Jack (Thomas Haden Church) é um ator fracassado que, uma semana antes de seu casamento, decide fazer uma espécie de “despedida de solteiro” pelas vinícolas Californianas com Miles, com o objetivo de aproveitar o máximo que puder antes que ele se case. Porém, os dois conhecem duas mulheres durante a viagem: Maya (Virginia Madsen) e Stephanie (Sandra Oh). E, com isto, viverão grandes aventuras amorosas e muitas mentiras.

O roteiro escrito por Alexander Payne e Jim Taylor, baseado em um conto de Rex Picket, tem como grande mérito (como falei no início deste texto) a construção de seus personagens: Miles vive em grande depressão depois do seu divórcio, e, depois disso, passou a ter grandes dificuldades de se relacionar com outras mulheres e se tornou mais negativo (sem ter esperanças, por exemplo, de que seu livro possa ser publicado); e Jack, apesar de conseguir se dar muito bem com mulheres, não consegue esconder de si mesmo que sua carreira como ator está praticamente acabada. Além desse estudo feito acima deles, os personagens de “Sideways” também são humanos. Jack, por exemplo, é o amigo que todos tem (ou pelo menos gostariam e ter): só quer sexo, e aproveitar a vida. Aliás, vale dizer também que é brilhante como Payne e Taylor retratam o universo masculino (então não é de se espantar que os personagens mais interessante, Miles e Jack, sejam homens). Outra coisa interessante é que os dois roteiristas fazem uma metáfora dos personagens com vinhos. Em uma cena, Miles e Maya conversam (uma das partes mais legais do filme) sobre os mais diversos tipos de vinhos. Ele fala sobre o Pinot Noir, que, assim como os protagonistas da história, são sensíveis, e quem está os criando tem que ser pacientes, calmos (não é a toa que este é o preferido de Miles).

A direção de Alexander Payne consegue, assim como ele fez em “As Confissões de Schimidt”, mesclar muito bem o drama com a comédia. Em uma certa cena, por exemplo, vemos uma súbita mudança de narrativa: começa de maneira agradável, mas termina de maneira triste (com um telefonema de Miles para uma pessoa que não o quer mais). Porém existem momentos exclusivamente cômicos, como o dia de sexta-feira, em que Jack aparece de uma maneira inusitada onde ele está hospedado. Outros exclusivamente dramáticos, como em uma certa cena envolvendo Miles e sua ex-esposa. O final do filme também merece destaque: parece que Payne se especializou em criar finais abruptos (resta saber se “Ruth em Questão” também possui um assim), e este de “Sideways”, assim como o de seu filme anterior, é belíssimo.

As atuações do filme também são excelentes. Não é o que segura o filme, como eu esperava, mas todos estão, no mínimo, ótimos. Quem se destaca mais é realmente Paul Giamatti, com uma magistral atuação. Nas horas cômicas ele se sai perfeito; nas dramáticas surpreende. Ele já havia demonstrando ser um excelente ator em “Anti-Herói Americano”, mas agora isto foi comprovado. Só me gera indignação sua não-indicação ao Oscar. Thomas Haden Church também é outro que merece destaque com uma grande atuação. Está extremamente carismático, e não vejo ninguém melhor para este papel do que ele (aliás, também parece que sua escolha para o elenco não foi por mera coincidência, já que ele fazia sucesso em uma série de TV, assim como seu personagem). Virginia Madsen também está ótima. Dentre as indicadas ao Oscar continuo gostando mais da interpretação de Cate Blanchett em “O Aviador”, porém isto não tira os méritos da atuação de Madsen, que está simpática e fiel a sua personagem. Sandra Oh, esposa de Payne, está bem melhor que eu esperava. Não que ela roube a cena, mas esperava que ela estivesse um tanto apagada. Sua interpretação é bem carismática.

Enfim, “Sideways” é um pequeno grande filme. O melhor do Oscar deste ano, o melhor de Alexander Payne, e a comprovação de que Paul Giamatti é um excelente ator. O melhor do ano até agora.

Cotação: 5/5

Até mais e abraços; Rodrigo


Ouvindo: Devo - Gut Feeling

segunda-feira, junho 27, 2005

Começando do zero

Batman Begins (idem, 05)

Gary Oldman as Sgt. Jim Gordon and Christian Bale as Batman in Warner Bros. Pictures' Batman Begins

Finalmente o Batman que todos queriam ver nas telas do cinema está de volta. Depois do dois filmes dirigidos por Tim Burton (onde havia um clima gótico perfeito), a série se perdeu após a entrada de Joel Schumacher. Ele tirou toda a obscuridade dos outros filmes e pôs no lugar disso cores chamativas, carnavalescas, e o resultado foi o pior possível (apesar de que “Batman Eternamente” não é um desastre, apenas um filme fraco; o que, infelizmente, não pode ser dito de sua seqüência). Para o seu lugar foi colocado um diretor novo, mas que já tinha provado muito talento em “Insônia” (não falo de “Amnésia” pois não assisti ao filme, já que me fizeram o favor de me contar a reviravolta final), e para substituir George Clooney foi chamado Christian Bale (que possui uma cara de malvado tremenda). E o resultado disso tudo não podia ser melhor: um filme que é, no mínimo, um trabalho de grande competência.

Bruce Wayne é uma criança que é filho de dois grandes milionários da cidade de Gotham. O seu pai, Thomas Wayne, luta para que a cidade volte a viver tranqüilamente, longe da corrupção e do crime. Porém, Thomas e Martha (a mãe de Bruce) são assassinados, o que faz com que o garoto fique. Anos mais tarde, Bruce se encontra na prisão, onde é solto por Ducard (Liam Neeson), que é um homem a serviço de Ra’s Al Guhl (Ken Watanabe), o chefe da Liga das Sombras, e que treina Bruce para enfrentar o seus maiores medos. Voltando para Gotham, Bruce decide acabar com a onda de violência que atinge a cidade, não como o milionário Wayne, e sim como o super-herói Batman.

O roteiro escrito por David Goyer decide se focar mais nos seus personagens do que na ação, em lutas, o que sempre é interessante vindo de um filme com apelo comercial. O próprio Bruce Wayne é um personagem bastante ambíguo, e Goyer nos apresenta um seu outro lado, quando ele era criança, e como iniciou o seu treinamento, sendo, assim, muito fiel a origem do protagonista (só não falo mais coisas porque nunca li uma HQ do Batman, mas conheço a série pelos desenhos animados). Porém não é só o protagonista que ganha um melhor tratamento; os vilões, por exemplo, são interessantíssimos. O Espantalho, principalmente, se mostra uma pessoa muito mais insana do que os próprios pacientes de sua clínica. Mas Goyer também consegue explorar muito bem a cidade de Gotham, mostrando todos os aspectos sujos da cidade.

A direção de Christopher Nolan também é outro atrativo. Sua escolha, aliás, (e como disse no primeiro parágrafo) foi mais do que adequada: ele conseguiu impor ao filme todo o clima sombrio que o protagonista necessita, colocando também um lado gótico que Tim Burton já havia feito logo no primeiro filme da série (e que eu, particulamente, estava sentindo falta, depois do desfile de moda feito por Schumacher). Também é interessante o modo em que Nolan decide usar a câmera em primeira pessoa, na maioria das vezes para mostrar o efeito do alucinógeno dado pelo Espantalho nas suas vítimas (a visão se torna bastante pertubadora também para o próprio espectador).

O elenco repleto de estrelas também não desaponta. Christian Bale talvez seja o melhor Batman até agora; é a interpretação mais sentida e expressiva de um ator que interpretou o homem-morcego na telona. Katie Holmes, uma das atrizes mais badaladas atualmente (já que está noiva do Tom Cruise), não faz nada além do esperado: tem um rostinho bonitinho, tem jeito de boa moça, está bem. Cillian Murphy, que já mostrou ser um ator talentoso em “Extermínio”, é a maior surpresa do elenco: está muito bem como o vilão do filme, tornando o Espantalho um sujeito perturbado e ameaçador. Morgan Freeman e Gary Oldman também estão ótimos, principalmente o segundo, que está bem carismático. Mas o melhor de todos é realmente Michael Caine. Ele nos entrega uma impecável atuação do Alfred, papel que caiu como uma luva para ele; uma interpretação emocionante.

“Batman Begins” é, por fim, um ótimo filme. Bem superior aos outros da série, consegue ser fiel ao personagem, possui muito boas atuações, e uma grande direção de Christopher Nolan. E parece que vai ter uma continuação; é esperar para ver.


Cotação: 4/5

Ouvindo: Pixies - Debaser

quinta-feira, junho 23, 2005

Desafio de Cinema

O amigo blogueiro Gustavo H. Razera me passou um desafio recentemente em seu blog, e aqui os coloco. Foi bem difícil respondê-lo, e ainda acho que esqueci de algumas produções que mereciam destaque. Mas, antes de tudo, gostaria de dizer que isto não é nada além de minha opinião, OK?

1. Melhores filmes dos últimos anos (a partir de 2000)

Quase Famosos
Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças
Encontros e Desencontros
Os Excêntricos Tenenbaums
Embriagado de Amor
Adaptação
Sobre Meninos e Lobos
Kill Bill
Garotos Incríveis
Gangues de Nova York
Moulin Rouge
Antes do Pôr-do-Sol

Cidade dos Sonhos
Alta Fidelidade

2. Filmes da Vida

Magnólia
Quero Ser John Malkovich
Beleza Americana
Doutor Fantástico
Cidadão Kane
Brilho Eterno...
Encontros e Desencontros
Apocalypse Now
Crepúsculos dos Deuses
Quanto Mais Quente Melhor
Os Bons Companheiros
Caminhos Perigosos
Pulp Fiction
Os Excêntricos Tenenbaums
Embriagado de Amor
Manhattan
Antes do Amanhecer
A Primeira Noite de um Homem


3. Atores que eu Gosto

Daniel Day-Lewis
Sean Penn
Jack Nicholson
Jack Lemmon
Robert De Niro
Liam Neeson
Samuel L. Jackson
Kevin Spacey
Edward Norton

4. Atrizes de Mão Cheia

Julianne Moore
Cate Blanchett
Meryl Streep
Laura Linney

5. Diretores com “D” maiúsculo

Paul Thomas Anderson
Quentin Tarantino
Wes Anderson
Martin Scorsese
Billy Wilder
Sergio Leone
Woody Allen
Sam Mendes
Cameron Crowe
Clint Eastwood

6. Meu Filme Nacional

O Homem que Copiava (mas não conheço muito bem o cinema Nacional; tenho muito o que assistir ainda).

7. Meu Filme de Guerra

Apocalypse Now

8. Meu Filme de Ficção Científica

Dos filmes de ficção científica que vi nenhum se tornou especial por algum motivo; quando eu assistir há algum filme que eu realmente adore eu coloco aqui (ah, mas só para constar: nunca vi “Blade Runner”, “2001 – Uma Odisséia no Espaço”, “Alien” ou “Contatos Imediatos do terceiro Grau”).

9. Clássicos da Infância e Juventude

Esqueceram de Mim I e II
Os Batutinhas
Ninguém Segura Este Bebê
Forrest Gump
Em Nome do Pai
Rei Leão


10. Filmes que Não Mereciam ter Ganho o Oscar de Melhor Filme

Chicago
Uma Mente Brilhante
Shakespeare Apaixonado (eu gosto bastante deste aqui, mas no ano gosto mais de “Além da Linha Vermelha”)

Coração Valente

A Quem passo a Batata-Quente: Gabriel Carneiro (Os Intocáveis); Henrique Miura (Cinéfilos Off-Line); Teco Apple (the.way.things.are)

É isso, então até mais; Rodrigo

Ouvindo: The Clash - Police & Thieves

sábado, junho 18, 2005

Aquecimento para "O Começo"

Batman - O Retorno (Batman Returns)



O Batman/Bruce Wayne foi sempre um dos meus super-heróis favoritos. Apesar de nunca ter lido uma HQ na minha vida (apenas passei o olho em algumas), sempre achei excelente a humanidade dada ao homem-morcego nos filmes da série. É bem verdade que Joel Schumacher quase acabou com isto no desastraso "Batman & Robin" (não, eu não acho o "Batman Eternamente" tão ruim assim, apesar de ser fraco), mas os dois filmes dirigidos por Tim Burton capturam toda a ambiguidade do protagonista.

E foi por isto mesmo que decidir rever "Batman - O Retorno", que não me lembrava muito bem. E é realmente tudo o que eu esperava: um interessante estudo de Bruce Wayne, e o clima sombrio e gótico (quase trash também) adotados por Burton é extremamente adequado à atmosfera vivida pelo personagem principal (e Michael Keaton, apesar de ser bem canastrão, não está tão ruim assim). Também é interessante a construção dos vilões do filme, como o prefeito de Gotham e o Pinguim (sempre ameaçadores; também por causa de quem os interpreta).

Bem, agora é esperar para ver como vai ser a visão de Nolan em "Batman Begins". Estão falando bem. E eu, como não pude ver neste fim-de-semana da estréia, ainda ficarei na expectativa.

Cotação: 4/5

PS: Vi "Sideways" ontem. Vou fazer um texto mais elaborado, e de pois o publico aqui.

segunda-feira, junho 13, 2005

Sobre Meninos e Lobos

Sobre Meninos e Lobos (Mystic River, 03)

Sean Penn and Kevin Bacon in Warner Bros. Mystic River

Os três protagonistas de “Sobre Meninos e Lobos” (Jimmy; Sean e Dave) são mergulhados em seus próprios dramas: o primeiro tem que lidar com a perda da sua filha (na qual a trama do filme gira em torno); o segundo está brigado com a sua mulher, que, constantemente, liga para ele sem falar nada, nem mesmo para falar o nome da filha do casal que nasceu; e o terceiro foi abusado por dois pedófilos quando ainda estava na pré-adolescência. E estes três personagens são retratados de uma maneira fria e perturbadora (no melhor sentido destas duas palavras) pelo roteirista Brian Helgeland. Na verdade, estes dois adjetivos que acabei de usar não servem somente para caracterizar a complexidade dos personagens, e sim toda a trama (novamente no melhor sentido dos dois adjetivos).

Jimmy Marcum (Sean Penn), Sean Devine (Kevin Bacon) e Dave Boyle (Tim Robbins) são três amigos do bairro. Eles, como de costume, estão jogando hóquei na rua, quando a bola cai dentro de um bueiro. Sem esperanças de que irão conseguir a bola de volta, um dos amigos tem a idéia para que cada um do grupo escreva o seu nome em uma calçada com intenção de que eles fiquem eternizados ali para sempre. Mas, quando um dos amigos está escrevendo o seu nome, um carro para na frente de Jimmy, Sean e Dave. Um homem sai do automóvel afirmando ser um policial e briga com os garotos por eles escrevem seus nomes em uma “propriedade particular”. Depois ele obriga Dave a entrar no carro, afirmando que o levará para casa. Os outros dois do grupo vão logo avisar aos seus pais. Mas é tarde demais: Dave já sofreu abusos por parte do “policial” e isto o deixará marcado para sempre. Porém a história ainda não acabou por aí: 25 anos após aquela tragédia ter ocorrido, Jimmy, Dave e Sean se encontram por meio de uma tragédia: Jimmy, que agora é um ex-presidiário e está querendo se regenerar tem sua filha assassinada; Sean, que agora é um policial, fica encarregado de investigar o caso juntamente com o seu parceiro; e Dave é um dos suspeitos do crime.

O roteiro de Brian Helgeland, baseado em um livro de Dennis Lehane, retrata um tema forte: a pedofilia. Qualquer tema forte como este tem que, é claro, ser tratado com inteligência e competência. E, felizmente, isto ocorre aqui: o mesmo roteirista do excepcional “Los Angeles – Cidade Proibida” fala sobre a pedofilia de uma maneira brilhante e cruel, mostrando também as marcas que isto deixa na pessoa que sofreu abusos. No roteiro de Helgeland, os pedófilos são os lobos e as vítimas dos lobos são os meninos; que depois de já serem as vítimas dos lobos, nunca mais serão as mesmas. Uma das maiores forças do roteiro também se concentram em seus diálogos inteligentes e reflexivos. Em certo momento do filme, o personagem de Robbins chega a afirmar para a sua mulher: “Não sei quem saiu daquele porão, mas, certamente, não foi o Dave”; um diálogo que mostra todo o peso que Dave carrega daquele dia adiante. Existem também outros diálogos reflexivos em “Sobre Meninos e Lobos”, principalmente na seqüência em que o personagem de Penn e Bacon estão conversando: Jimmy afirma que acha que naquele momento em que Dave foi seqüestrado, os três estavam no carro. Ainda nesta cena, o personagem de Bacon pergunta para o de Penn: “Qual foi a última vez que você viu o Dave?”, e Jimmy responde: “Foi à 25 anos, quando ele saiu junto daquele carro”. Outra coisa que é admirável no roteiro é que Helgeland consegue fazer uma competente mistura entre um drama sobre a inocência perdida e um suspense sobre a investigação de um assassinato que possui reviravoltas inteligentes. Outro ponto positivo da história é a sua construção: simplesmente espetacular, ela apresenta os três protagonistas crianças no início do filme, e logo depois ocorre a apresentação dos protagonistas já adultos logo depois da apresentação deles crianças, mostrando ainda o drama vivido por estes ainda na mesma seqüência. A construção dos personagens, como falei no início, também é brilhante: extremamente complexos, Helgeland consegue fazer um excelente estudo de seus personagens, não somente dos personagens de Penn, Bacon ou Robbins, como também das personagens de Laura Linney e Márcia Gay Harden, que, felizmente, também são muito bem construídas e possuem um papel importante dentro da trama.

A direção de Clint Eastwood, vencedor do Oscar de melhor diretor pelo ótimo “Os Imperdoáveis”, tem um grande triunfo: ele conseguiu tratar de um tema denso sem ser piegas ou clichês. Existem vários momentos em “Sobre Meninos e Lobos” que poderiam muito bem querer arrancar lágrimas do espectador, caso o roteiro de Helgeland tivesse caído nas mãos erradas. Mas, felizmente, não é isto que ocorre aqui: Eastwood demonstra grande competência ao fazer um filme emocionante sem ser maçante; retrata a pedofilia de forma escura (mérito também da fotografia de Tom Stern), e sempre de maneira competente. Eastwood também merece méritos pela estrutura narrativa adotada pelo diretor: sem nunca cansar o espectador, o mesmo se interessa pelo rumo que a vida de cada um dos personagens irá levar. Clint também não tem a intenção de chocar o espectador: assim como o roteirista, Clint tem a intenção somente de mostrar a triste realidade sem utilizar uma violência estilizada para fazer com que o espectador se interesse pela trama ou fique chocado com o que vê. Também é notável na direção de Eastwood a sua intimidade com a câmera. Ele utiliza bastante aqui em “Sobre Meninos e Lobos” câmeras aéreas, que, na maioria das vezes, mostra o rio Mystic em uma única tomada (de onde o nome original do filme, “Mystic River”, foi retirado). Também nota-se que Eastwood utiliza no filme vários movimentos de câmera, como na cena em que Dave, ainda criança, está fugindo do porão onde ficou por quatro dias: o diretor coloca na cena uma câmera tremida, como se esta representasse como a vida do garoto ficaria dali adiante: totalmente desorientada.

As atuações são outro grande ponto forte de “Sobre Meninos e Lobos”. Laura Linney é a que aparece menos entre os outros do elenco, mas quando entra em cena demonstra talento. Marcia Gay Harden, indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por este filme, também está bem: somente pelo seu olhar, o espectador sabe o que a sua personagem está passando. Laurence Fishburn, que interpreta o parceiro do personagem de Kevin Bacon, não é nem de longe o melhor do elenco, porém ele interpreta seu personagem com carisma. Kevin Bacon, interpretando Sean Devine, está excelente: ele consegue interpretar otimamente as duas versões de seu personagem: o Sean policial que está exercendo seu trabalho; e o Sean mais humano, que se sente frustrado por estar sem falar com sua mulher durante 6 meses. Mas a maior surpresa do elenco é, sem dúvida, o garoto que interpreta o namorado de Katie, Tom Guiry. O rapaz demonstra possuir grande talento: seu Brendan Harris é uma pessoa que sofre por causa da perda da mulher amada, mas que é ao mesmo tempo um dos suspeitos do crime. Agora, vamos falar dos dois ganhadores do Oscar: Tim Robbins e Sean Penn. O primeiro está muito bem, ele demonstra somente pela expressão de seu olhar e de seus gestos o que seu personagem sente. Apesar de ter achado Benicio Del Toro melhor pela sua interpretação no maravilhoso “21 Gramas”, não foi um grande erro a Academia ter premiado Robbins como muitos chegaram a afirmar. Já o segundo, Sean Penn, é o melhor do elenco. Sua interpretação de Jimmy Marcum é impecável, arrebatadora: o seu personagem é uma pessoa amargurada pela perda de uma filha, e que faria de tudo para fazer justiça com as próprias mãos. Com certeza, o ano de 2003 foi o ano de Penn, as duas melhores atuações deste ano foram (por este “Sobre Meninos e Lobos” e por “21 Gramas”) dele. Acho que ele deveria ter concorrido por estes dois filmes; mas o que importa é que já estava na hora dele receber a estatueta dourada.

Enfim, “Sobre Meninos e Lobos” é um filme brilhante. A pedofilia aqui é retratada com o devido cuidado e delicadeza por Clint Eastwood. Pode não ser a sua grande obra-prima (“Menina de Ouro” é um pouco melhor), mas ainda assim um filme obrigatório.

Cotação: 5/5

Até mais e abraços; Rodrigo


Ouvindo: Beck - Everybody's Gotta Lern Sometimes

PS: Oba! Comprei hoje o DVD de "Os Excêntricos Tenenbaums"; já já vou reve-lo.

terça-feira, junho 07, 2005

Um sorriso vale mais que mil palavras

Whisky (idem, 04)



Uma fotografia não diz nada. Nela, as pessoas aparecem felizes, sorrindo, mas tudo aquilo nem sempre é verdadeiro; aquilo tudo é só a superfície. Em “Whisky”, os personagens só aparecem “felizes” quando estão posando para uma foto, porque por dentro eles não são assim. Muito pelo contrário: são tristes, vivem presos em um monótona rotina, e não possuem assunto para conversar. E este é o grande mérito desta produção Uruguaia, dirigido pelos amigos Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll: é um estudo fantástico em cima dos três protagonistas (e suas relações), misturando melancolia com uma pitada de humor.

Jacobo é dono de uma pequena fábrica que faz meias, e que tem como funcionária Marta (Mirella Pascual), sempre a primeira a chegar e a última a sair. Os dois pouco conversam, mas vivem presos em uma mesma rotina. Certo dia, a mãe de Jacobo morre, e ele recebe a notícia de que seu irmão, Herman (que vive no Brasil e que também possui uma fábrica de meias), virá para o Uruguai. Como ele (Jacobo) não possui uma vida nenhum pouco interessante, ele convida Marta para “ser” sua mulher enquanto seu irmão estiver na sua casa. E, conseqüentemente, passarão a viver uma mentira dia após dia.

Talvez o mais admirável do roteiro escrito por Gonzalo Delgado, Pablo Rebella e Pablo Stoll é fazer de uma premissa que tinha tudo para dar em um comédia bobinha e esquecível em um filme sério e que constrói seus personagens com o máximo de cuidado. Aliás, estes personagens, como falei no início do texto, são uma das grandes atrações: Marta e Jacobo, principalmente, vivem em uma rotina chata; todo dia é a mesma coisa. E quando Herman chega ao Uruguai notamos que suas vidas mudam de uma certa forma: ao contrário de ir trabalhar, Jacobo vai a um estádio de futebol, xingar o juiz que não marcou o pênalti para seu time; Marta fuma o seu cigarro à beira da praia, e não mais nos fundos da fábrica; e por aí vai. Mas o melhor de tudo é que isto é feito com uma enorme simplicidade e pouca pretensão.

Rebella E Stoll, na sua direção, impõe uma narrativa que possui uma espécie de “humor melancólico”: vemos um pouco de comédia na história, mas esta é triste, com personagens infelizes. A narrativa do filme também é bastante delicada (assim como os protagonistas da trama). Outro grande ponto forte são os elegantes enquadramentos concebidos pela dupla de diretores; e se notarmos bem veremos que estes se repetem várias vezes ao longo da produção, talvez com o propósito de ilustrar a mesmice da vida dos personagens (por exemplo: vemos vária vezes o close nas máquinas que fazem meias; no portão sendo aberto; etc.).

As atuações de Andrés Pazos, Jorge Bolani e Mirella Pascual são excelentes. O segundo consegue ser extremamente carismático (o que faz, é lógico, com que gostemos de seu personagem); mas quem rouba a cena é Pazos e Pascual: somente pelo olhar deles sabemos o que seu personagem está passando. E eles não exageram nunca; construindo dois adoráveis personagens.

Enfim, “Whisky” é um ótimo filme. Não é uma grande obra-prima, mas consegue ser simples, direto ao ponto, e, ainda assim, consegue fazer um trama original com um excelente estudo de personagens.

Cotação: 4/5 (8,0)

Ouvindo: Weezer - Undone

quarta-feira, junho 01, 2005

Olhei bem de perto...novamente

Beleza Americana

Lester Burnham ( Kevin Spacey ) is intrigued by Angela ( Mena Suvari ) in American Beauty


Comprei há algum tempo o DVD deste filme, que não via há um bom. E, depois de uma revisão, é bom saber que "Beleza Americana" não perdeu nenhum pouco do impacto que causou a mim desde a primeira vez que o vi. Continua sendo a mesma obra-prima.
A direção de Mendes é simplesmente fantástica: além de seus enquadramentos elegantes (e perfeitos), a irônia presente na narrativa é infalível (e nos diálogos também). E o roteiro de Allan Ball é brilhante: a grande maioria dos personagens do filme possuem uma coisa em comum: querem, acima de tudo, manter as aparências (desde o casal de gays até Caroline). Só que um dos poucos que conseguem ver a beleza nas pequenas coisas é o que poderia ser considerado "a má influência": Ricky Fitts (não se é assim que se escreve) Ah, sem falar no fantástico estudo que se faz em cima de Lester Burnham, interpretado por Kevin Spacey, que, aliás, está genial (mereceu o Oscar).
Ouvindo: Air - Playground Love