Punch Drunk Movies


Punch Drunk Movies

I have come here to chew bubble gum and kick ass... and I'm all out of bubble gum.

sábado, abril 23, 2005

A Vingança é um parto que se come frio - Parte 2. Ou...

...Kill Bill Vol. 2 (idem, 04)



Tarantino passou sete anos parado após fazer o ótimo “Jackie Brown” e volta com um filme dividido em dois volumes. O primeiro deste dois não é uma produção tipicamente do diretor: não há muitos diálogos e os personagens servem, principalmente, para terem parte de seus membros decapitados. Mas ainda assim deu certo: Tarantino brincou com o cinema e quebrou as regras do convencional e criou um filme fantasioso. Neste Volume 2 ocorre o oposto: os diálogos vem de forma tão comum como em outros filmes do diretor e os personagens são levados mais a sério. Fora isto, esta Segunda parte ainda funciona como uma homenagem aos filmes do mestre Sergio Leone. E o resultado? Uma obra-prima.

“A Noiva” (Uma Thurman) está de volta para realizar a sua vingança, que desta vez será realizada em terras ocidentais e não mais orientais. Agora, para finalizar sua lista, ela terá que matar Budd (Michael Madsen), Elle Driver (Daryl Hannah) e, o principal, Bill. Mas ela ainda terá que conviver com uma grande revelação.

O roteiro escrito por Tarantino possui, como coloquei no começo, sua característica mais memorável: os diálogos. Se na primeira parte estes vinham em menor escala, aqui é ocorre um tiroteio de frases, seja ela esbanjando cultura pop ou não. Um dos que mais me chamou a atenção foi aquele em que Bill fala sobre os alter-egos dos famosos super-heróis de HQ, e compara “A Noiva” com eles. Os personagens também são tratados com maior aprofundamento: aqui conhecemos melhor Bill, Budd e Elle Driver (e vendo como estes três são figuras realmente temíveis). O desenvolvimento da história também é admirável: assim como na genial primeira parte, aqui não há a inclusão de contextos bobos, feitos para “encher lingüiça”. É apenas uma história muito bem contada, e com uma criatividade imensa.

A direção de Tarantino também é excepcional. A estrutura narrativa adotada por ele, por exemplo, continua empolgante e extremamente envolvente. Mas é no terceiro ato que Tarantino surpreende o espectador ao impor uma delicadeza enorme ao filme. E quem jurava que ele dentro dele não batia um coração se enganara redondamente. Os enquadramentos impostos por ele continuam possuindo grande estilo; a dinâmica das lutas continuam incríveis (as seqüências que mostram “A Noiva” no treinamento com Pai Mei são geniais) e os movimentos de câmera aparecem em maior escala. Aliás uma cena em especial me chamou a atenção: “A Noiva” está entrando na capela onde vai se casar; a câmera de Tarantino se distancia rapidamente, focalizando as quatro pessoas que virão a realizar a tal chacina, mas a câmera fica por lá mesmo para evitar que o espectador presencie aquela terrível cena. É muito bonita também a grande homenagem que Tarantino faz aos filmes de western spaghetti (me corrijam se o nome estiver escrito de maneira errada). A trilha sonora é o que chama mais a atenção: a todo momento ouvimos músicas às vezes compostas para o filme e em outros tirados de outros filmes (no CD do filme tem muitas músicas feitas pelo Ennio Morricone).

O elenco também merece grande destaque: Uma Thurman está excelente como “A Noiva”. Com um carisma enorme, ela também se sai otimamente nas cenas que envolvem emocionalmente a personagem (como o encontro desta com sua filha). Já David Carradine foi a minha maior surpresa: ele transforma Bill em um sujeito ao mesmo tempo extremamente simpático e temível. Michael Madsen conseguiu um papel que caiu como uma luva para ele: como o Mr. Blonde de “Cães de Aluguel”, Budd é o sujeito mais legal, porém um dos mais perigosos (e Madsen faz isto com grande fidelidade). Daryl Hannah também está muito bem.

Enfim, “Kill Bill Vol. 2” é um dos 5 melhores do ano passado. Até mesmo um pouco melhor que a já excepcional primeira parte, Tarantino diminui as doses de litros de sangue e introduz ao espectador diálogos certeiros e personagens memoráveis, mas nunca perdendo o ritmo, e ainda contando com uma belíssima fotografia.

Até mais e abraços; Rodrigo


Cotação: 5/5

Ouvindo: Chingon - Malaguena Salerosa

segunda-feira, abril 18, 2005

Do Outro Lado do Rio

Diários de Motocicleta (idem, 04)



“Diários de Motocicleta” não é um filme sobre Che Guevara. É um filme sobre Ernesto Guevara e seu amigo Alberto Granado. E este último não é um amigo qualquer. Os dois embarcam nesta viagem como dois meninos, e voltam como dois homens. É nesta viagem que Guevara se tornou o que viria a ser (um revolucionário). E é uma pena que pessoas como ele sejam vistas como vilões em uma sociedade capitalista como a nossa. Agora, o que mais vale é o “ter” do que o “ser” (enquanto que o contrário deveria ocorrer). E isto é uma coisa quase que impercebível (o que justifica o fato de tanto preconceito no mundo). E este filme dirigido pelo brasileiro Walter Salles pode ser classificado como um colírio para os olhos de cada pessoa.

Alberto Granado (Rodrigo de La Serna), um bioquímico, e Ernesto Guevara (Gael García Bernal), um estudante de medicina, decidem embarcar em uma viagem. O veículo? A moto “la Poderosa”. O objetivo? Ir da Argentina até o extremo norte da América do Sul. E por que decidem viajar? Não sabem; viajam por viajar mesmo. Mas o que estes dois jovens não sabem é que suas vidas vão mudar de um certo modo, principalmente na formação de seus ideais, que iam caminhar com eles (principalmente com Guevara) pelo resto de suas vidas.

O roteiro escrito por Jose Rivera, baseado a partir dos diários escrito por Guevara e Granado, possui uma das mais belas mensagens vistas nos cinemas nos últimos anos: todos somos iguais. Os leprosos são tão normais quanto as pessoas sadias; os negros não possuem diferenças em relação ao branco; e o pobre é pode ser tão bom quanto ao rico. E tudo isto é dito de uma maneira um tanto poética (a cena em que Guevara atravessa o rio para comemorar o seu aniversário com os doentes de lepra é belíssima), sem nunca cair no clichê. A construção dos dois protagonistas também merece destaque: tanto Ernesto Guevara (que mais tarde, como todos sabem, viria a ser conhecido como Che Guevara) quanto Alberto Granado são pessoas normais; brigam e discutem como qualquer outra e não abrem mão de uma mulher como qualquer homem. Também é interessante ver que a formação do ideal que Guevara levaria até a morte veio com esta viagem. Afinal, como ele mesmo chega a dizer, “como saber da nostalgia do mundo sem antes conhece-lo?” (não necessariamente com estas palavras).

A direção de Salles também consegue ser brilhante: a narrativa que ele impõe ao filme consegue ser emocionante sem ser muito melodramática; e a jornada feita pelos protagonistas é sempre divertida, sem nunca parecer monótona. Ele também constrói planos belíssimos: muitas vezes, Salles filma uma paisagem ou enquadra Guevara e Granado em sua moto com perfeição, sempre devidamente acompanhada com a excelente trilha do competente Gustavo Santaolala (mesmo compositor de trilha como a de “Amores Brutos” e “21 Gramas”). Mas uma das tomadas mais bonitas (e que, não sei porque, me tocoram bastante) é aquela que, depois dos leitreiros finais, é filmado o rosto de verdadeiro Alberto Granado (já velho, é claro), e aquele em que são mostradas, sob uma fotografia em preto e branco, as várias pessoas que passaram pela viagem de Guevara e Granado.

As performances de Gael García Bernal e Rodrigo de la Serna também são excelentes. O primeiro se encontra fiel ao seu personagem e nunca parece exagerado; e o segundo interpreta brilhantemente seu personagem: com um carisma invejável, La Serna logo ganha a simpatia do espectador, e nas cenas mais emocionantes ele também não decepciona. Uma grande injustiça terem o deixado de fora na cerimônia do Oscar este ano.

Enfim, “Diários de Motocicleta” é um filme excepcional. Com uma mensagem belíssima que nunca soa clichê, Walter Salles cria um dos melhores filmes do ano, chegando a ser até mesmo um ouço melhor do que o excelente “Central do Brasil”.

Cotação: 5/5

Até mais e abraços; Rodrigo

Ouvindo: Jorge Drexler - Al Otro Lado del Río; Bob Dylan - Most Of The Time






quarta-feira, abril 13, 2005

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segunda-feira, abril 11, 2005

"Tamanho gigante, por favor!"

Super Size Me - A Dieta do Palhaço



A rede de fast food McDonalds é, provavelmente, a maior do mundo. As pessoas entram na lanchonete, compram um delicioso hambúrguer (com o devido acompanhamento: coca-cola; batatas-fritas; etc.), e saem feliz da vida. E estas pessoas vão voltando para lá cada vez com mais freqüência, e em um piscar de olhos estão obesas e com o seu fígado destroçado. É como um vício qualquer (como o do cigarro; da bebida;etc.), e chegam a um ponto que querem parar de ingerir tantos Big Mac’s; um quarteirão; um coca gigante (ou super size, como você preferir); e as tais batatas com inúmeras calorias (difíceis de serem perdidas; diga-se de passagem).

Pois bem, Morgan Spurlock, ispirado no caso de duas meninas que processaram o McDonalds, culpando a rede de fast food pela sua obesidade, estava decidido a comprovar tudo o que foi dito no parágrafo acima; mas de um jeito nada convencional: ele passaria a comer, durante todo um mês, somente alimentos do McDonalds, consultando de tempos em tempos três médicos e uma nutricionista, para provar o que

Talvez o maior erro cometido pelo documentarista seja quando o espectador se faça a pergunta: “Qual o principal argumento de Spurlock?”. Ah claro, o de que comer alimentos gordurosos e possivelmente modificados fazem mal a saúde. Mas quem não sabia disto? Então, qual seria o motivo para Spurlock fazer um documentário criticando os fast foods? A resposta é fácil: provavelmente, ele, vendo que estava fazendo uma direta crítica ao McDonalds, saberia que ia causar polêmica, e, conseqüentemente, aparecer como uma espécie de “homem corajoso e esperto” para críticos e público. E parece que isto funcionou: Morgan ganhou o prêmio de Melhor Diretor no festival de Sundance, além de ter sido agraciado por diversos críticos de cinema. Um fato triste, diga-se de passagem, já que Spurlock não faz nada mais do que comprovar o óbvio.

O documentarista também comete outros dois erros: os depoimentos, tão importantes nos documentários, presentes em “Super Size Me” são desinteressantes e, principalmente, não convincentes. Um dos entrevistados, por exemplo, chega a afirmar que sabia que comer em fast foods fazia mal à saúde; ou seja: nem mesmo como um alerta este “Super Size Me” parece servir. Outro que me deixou bastante irritado foi quando Spurlock mostra à algumas crianças (provavelmente entre seis a oito anos de idade) figuras de pessoas importantes: a maioria não sabia quem era Jesus Cristo, mas conheciam o palhaço símbolo da rede McDonalds. É difícil, para o espectador, saber se as tais crianças foram, ou não, mandadas a dizer aquelas coisas (para mim, aquilo tudo me não me soou muito natural). Outro erro cometido por Spurlock é que ele não sabe muito bem o que quer criticar: seria a rede McDonalds? A obesidade? Ou seria todos os fast food (como o Burger King, etc.)? Bem, estas perguntas eu não sei responder, mas é esta confusão de idéias que também atrapalha este “Super Size Me”.

Enfim, mesmo que este documentário cresça (um pouco) no seu terceiro ato e Morgan Spurlock seja um sujeito simpático, a falta de um argumento inteligente e de depoimentos ao menos convincentes dificulta o fato de “Super Size Me” ser um bom filme. Não é um desastre, mas é um filme bastante irregular e superestimado.

Cotação: 2/5


Até mais e abraços; Rodrigo

Ouvindo: Elliott Smith - Miss Misery

EDITADO: Coloquei links aqui no blog. Peço desculpas para aqueles que me esqueci de colocar um link (quando eu tiver mais tempo livre eu adiciono os que faltaram).

quarta-feira, abril 06, 2005

Sob o Domínio do Mal

The Manchurian Candidate (o4)



Não costumo me interessar, atualmente, por filmes que falem sobre intrigas políticas por duas coisas: 1) Estas produções, na maioria das vezes, perdem-se no desenvolvimento da história, quando estas tentam ser complexas demais (como isto fosse sinônimo de inteligência); e 2) O tema já está desgastado, e uma premissa pelo menos um pouco inovadora é difícil de se encontrar (apesar de, logicamente, não ser impossível). Talvez por isto fiquei um tanto desconfiado deste “Sob o Domínio do Mal”, refilmagem do clássico homônimo que tem Frank Sinatra como protagonista. Mas fui surpreendido por três pessoas: Jonathan Demme, o diretor (que andava desaparecido) e Daniel Pyne e Dean Georgaris, os roteiristas.

Na época da guerra do Golfo, soldados são vítimas de uma emboscada, que faz com que dois deles sejam mortos. Porém o que os livra da morte é a coragem de um homem chamado Raymond Shaw, que anos após o fato ocorrido está indicado à vice-presidência dos Estados Unidos. Mas o sargento Ben Marco (que também fazia parte do pelotão), fica tendo sonhos a todo momento com o que ocorreu na guerra. Todos acham que ele está passando pelo trauma-pós guerra, mas ele tem certeza que ele, juntamente com Shaw, passaram por um tratamento de lavagem cerebral.

O roteiro escrito por Daniel Pyne e Dean Georgaris (como já disse no primeiro parágrafo) me surpreendeu bastante. Tramas que tem como ponto de partida a lavagem cerebral, na maioria das vezes, acabam por se tornarem bobas e sem sentido, mas aqui em “Sob o Domínio do Mal” a coisa é bem diferente: o desenvolvimento da história vai se demonstrando inteligente e criativo, quando a aparentemente simples premissa se torna mais complexa do que o esperado, se transformando em um suspenseque brinca com as emoções de seus personagens e que foge dos clichês do gênero. Personagens que, aliás, são interessantíssimos: Marco, por exemplo, se demonstra uma pessoa ambígua quando o espectador chega a se questionar se tudo aquilo que ele pensa é verdade, ou não passa de uma paranóia de uma mente visivelmente cansada. Pyne e Georgaris também não caem nas armadilhas das reviravoltas (presentes em tantos filmes de suspense), o que é plausível.

A direção de Jonathan Demme também consegue merecer destaque. O ritmo que lê impõe ao filme é alucinante: com um clima sempre tenso, Demme envolve de uma maneira admirável o espectador, que leva a sério a trama. Ele também se sai bem na criação de cenas nonsense, como, por exemplo, a cena em que o personagem de Washington está em um trem e vê na testa da mulher que conversa com ele um pequeno ponto escorrendo sangue. A característica principal do diretor também está presente: como em outras produções, Demme usa e abusa de closes, que nunca parecem ser novelescos demais, e sim transmite as emoções dos personagens.

As atuações também são outro grande ponto positivo do filme. Denzel Washington, um ator sempre competente, cumpre com fidelidade seu personagem: o desgaste de Marco é visto somente pela expressão facial do ator. Liev Schreiber, fazendo Raymond Shaw, foi a minha maior surpresa. Ele faz de Shaw uma pessoa sensível, o que faz com que o espectador logo goste dele (graças, também, ao seu carisma). Já Meryl Streep está excelente, fazendo a mãe do personagem de Liev: ela consegue ciar uma mãe preocupada com o filho sem nenhum exagero, muito menos sem transforma-la em uma figura estereotipada.

Enfim, “Sob o Domínio do Mal” é um filme criativo e emocionante sem beirar no melodrama. Demme conseguiu criar não somente um mero passatempo, e sim um suspense inteligente.

Cotação: 4/5

Até mais e abraços; Rodrigo