Punch Drunk Movies


Punch Drunk Movies

I have come here to chew bubble gum and kick ass... and I'm all out of bubble gum.

segunda-feira, fevereiro 27, 2006

A sorte define o jogo

Ponto Final (Match Point, 2005, Woody Allen)

Scarlett Johansson and Jonathan Rhys-Meyers in DreamWorks Pictures' Match Point

OBS: O texto a seguir contém spoilers. Melhor não ler, caso não tenha visto o filme.

Ponto Final realmente não é um filme que siga o padrão de outros filmes do Woody Allen, a começar pelo lugar onde se passa a história, Londres, e não mais Nova York; a troca do jazz para a ópera; e o protagonista que, bem, é bastante diferente de outros filmes do diretor. Também foi muito comparado a Crimes e Pecados, e pode até mesmo ter alguma semelhança com o filme de 1989, mas Ponto Final tem sim seus próprios méritos (e como tem!).

Para começo de história vale ressaltar que a introdução da ópera no filme é algo completamente feliz: dá um tom mais trágico ao filme, um certo quê de tristeza, e contribui para a tremenda intensidade de algumas cenas. As divagações sobre a sorte e o acaso (como logo aquela que abre o filme) e a metáfora que é feita entre um jogo de tênis e a vida também são maravilhosas. Há também uma conclusão final bárbara, que é construída de um modo incrivelmente inteligente (e que nos faz pensar ainda mais sobre o acaso, sorte, etc.). A dupla de detetives que aparecem lá pela metade final do filme parece ter saído de um filme do Hitchcock, e são donos de um dos melhores diálogos do filme.

Scarlett Johansson está sensacional no papel da "loira fatal", daquelas que parecem ter saído de um filme noir da década de 40 (a primeira cena em que ela aparece é genial), e Jonhattan Rhys-Meyers é outro que está brilhante, se entregando de um modo surpreendente ao personagem (e até agora não consegui engolir como ele foi tão subestimado nas premiações desse ano). Aliás, ele também é o protagonista da provavelmente melhor cena do filme: a conversa entre ele, Nola e a vizinha desta depois de ter assassinado as duas últimas. Aí que vemos que a sorte poderia até estar do seu lado, mas ele nunca conseguirá ter a paz de espírito.



Ouvindo: Pavement - Elevate me Later

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Delicado sem afetação

O Segredo de Brokeback Mountain (Brokeback Mountain, 2005, Ang Lee)

Jake Gyllenhaal and Heath Ledger in Focus Features' Brokeback Mountain

Muito difícil escrever sobre O Segredo de Brokaback Mountain sem ter visto nada do Lee (só umas cenas de O Tigre e o Dragão e Cavalgada com o Diabo na televisão, mas isso não conta...), então eu poderia muito colocar uma foto do filme aqui e colocar um comentário direto como "Belo Filme" e etc. etc. de coisas. Difícil também porque acho que tudo o que o filme é já foi dito: é um trabalho de delicado demais, sem dúvida, e o maior mérito do Lee é que faz isso sem nenhum tipo de afetação. Desde de o início (muito silencioso, com uma fotografia otimamente trabalhada) vemos que a intenção do homem não é criar polêmica por causa da temática da produção, e sim contar uma história, como qualquer outra, livrando-se de qualquer rótulo de "filme gay" que o filme poderia receber.

Lee também se sai feliz no certo tom de pessimismo que consegue dar o filme. Desde o início sabemos que os dois dificilmente conseguirão ficar juntos, e Lee joga essa realidade nua e crua na cara do espectador, deixando o filme ainda mais triste.


E, no final das contas, sai disso tudo aí um belo resultado. Se levar o Oscar mesmo vai ser um resultado até que bem satisfatório.



Ouvindo: The Flaming Lips - The Yeah Yeah Yeah Song

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

No padrão

Johnny & June (Walk the Line, 2005, Dir: James Mangold)

Joaquin Phoenix as Johnny Cash and Reese Witherspoon as June Carter in 20th Century Fox's Walk the Line

Johnny & June é um filme esquecível, nada mais que isso. James Mangold infelizmente deicidiu aprender com Taylor Hackford e Ron Howard, e deixou o mestre Martin Scorsese (que, como sabemos, já fez cinebiografias sensacionais como Touro Indomável e O Aviador) de lado. Triste também é constatar que nem a tão bonita performance de Joaquin Phoenix (sim, bastante superior ao Jamie Foxx, já que a comparação com Ray é inevitável) e a encantadora atuação da Witherspoon não consigam mudar nem um pouquinho (tá certo, em alguns momentos eles até que levantam um pouco o filme, mas nada de mais) o resultado final da produção.

O roteiro escrito a quatro mãos possui aquele velho erro de não se decidir se vai falar sobre a carreira profissional do protagonista ou explorar mais o seu lado pessoal, e é feita toda aquela confusão usual: de repente paramos de saber sobre as turnês de Cash e vemos somente o seu vício em drogas, e vice-versa. Mas o maior tropeço que o filme comete é tentar "explicar" os problemas de Cash usando o trauma que ele tinha pela morte de seu irmão. Não que eu duvide que ele realmente possuísse esse trauma, mas o que me incomoda é essa tentativa de decifrar um homem tão enigmático como Johnny Cash.

Ele, com certeza, merecia um filme que estivesse a altura de suas músicas.



Ouvindo: Johnny Cash - Folsom Prison Blues

sábado, fevereiro 11, 2006

Votos para o Alfred

Meus votos para o Alfred 2005 em negrito itálico

filme do ano

O Aviador, de Martin Scorsese
Um Filme Falado Manoel de Oliveira
Marcas da Violência, de David Cronenberg
Menina de Ouro, de Clint Eastwood
Oldboy, de Chanwook Park

direção


Clint Eastwood, Menina de Ouro
David Cronenberg, Marcas da Violência
Lucrecia Martel, A Menina Santa
Manoel de Oliveira, Um Filme Falado
Martin Scorsese O Aviador

ator


Bruno Ganz, A Queda!
Jamie Foxx, Ray
Javier Bardem, Mar Adentro
Leonardo Di Caprio, O Aviador
Mickey Rourke, Sin City

atriz


Emmanuelle Devos, Reis e Rainha
Hillary Swank, Menina de Ouro
Maggie Cheung, Clean
Naomi Watts, King Kong
Natalie Portman, Closer

ator coadjuvante


Ed Harris, Marcas da Violência
Morgan Freeman, Menina de Ouro
Nick Nolte, Clean
William Hurt, Marcas da Violência
Thomas Haden Church, Sideways

atriz coadjuvante


Cate Blanchett, O Aviador
Mabel Rivera, Mar Adentro
Maria Bello, Marcas da Violência
Rachel Weisz, O Jardineiro Fiel
Virgina Madsen, Sideways

roteiro original


O Aviador
Um Filme Falado
Reis e Rainha
Terra dos Mortos
A Vida Marinha com Steve Zissou

roteiro adaptado


Closer
O Jardineiro Fiel
Marcas da Violência
Menina de Ouro
Oldboy

elenco


O Aviador
Closer
Marcas da Violência
Sin City
A Vida Marinha com Steve Zissou

cena do ano


Um Filme Falado, o choque do capitão
Marcas da Violência, a mesa do jantar
Menina de Ouro, "Mo chuisle means my darling"
Terra dos Mortos, os zumbis saem da água
A Vida Marinha com Steve Zissou, o tubarão-jaguar

filme brasileiro


Bens Confiscados, de Carlos Reichenbach
Cabra-Cega, de Toni Venturi
Cidade Baixa, de Sérgio Machado
Cinema, Aspirina & Urubus, de Marcelo Gomes
2 Filhos de Francisco, de Breno Silveira

filme de estréia


Cinema, Aspirina & Urubus, de Marcelo Gomes
2 Filhos de Francisco, de Breno Silveira
Hora de Voltar, de Zach Braff
O Lenhador, de Nicole Kassell
Maria Cheia de Graça, de Joshua Marston

fotografia


O Aviador
Cinema, Aspirina & Urubus
O Clã das Adagas Voadoras
O Jardineiro Fiel
Sin City

montagem


O Aviador
O Jardineiro Fiel
Oldboy
Reis e Rainha
Sin City

direção de arte


O Aviador
O Clã das Adagas Voadoras
A Fantástica Fábrica de Chocolate
King Kong
A Vida Marinha com Steve Zissou

figurinos


O Aviador
O Clã das Adagas Voadoras
Desventuras em Série
A Fantástica Fábrica de Chocolate
King Kong

maquiagem


Desventuras em Série
A Fantástica Fábrica de Chocolate
Mar Adentro
Sin City
Terra dos Mortos

música


O Aviador
A Fantástica Fábrica de Chocolate
Menina de Ouro

Reencarnação
A Vida Marinha com Steve Zissou

disco


A Fantástica Fábrica de Chocolate
Hora de Voltar
Ray
Tudo Acontece em Elizabethtown
A Vida Marinha com Steve Zissou

canção


"Sekai no Yakusoku", O Castelo Animado
"In the Deep", Crash
"Wonka's Welcome Song", A Fantástica Fábrica de Chocolate
"So Long & Thanks for All the Fish", O Guia do Mochileiro das Galáxias
"Remains of the Day", A Noiva-Cadáver

sonoplastia


O Aviador
Guerra dos Mundos
King Kong
Sin City
Star Wars: Episódio III - A Vingança dos Sith

efeitos visuais


O Aviador
Guerra dos Mundos
King Kong
Sin City
Star Wars: Episódio III - A Vingança dos Sith

pior filme


Alexandre, de Oliver Stone
O Amigo Oculto, de John Polson
Crash, de Paul Haggis
O Grito, de Takashi Shimizu
A Ilha, de Michael Bay


Mas vale dizer: não vi filmes importantes como Cinema, Aspirinas & Urubus (e outros nacionais que estavam concorrendo, como Bens Confiscados), Marcas da Violência, Reis e Rainha e A Menina Santa.

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

O caminho do futuro revisitado

O Aviador (The Aviator, 2004, Dir: Martin Scorsese)

John C. Reilly as Noah Dietrich and Leonardo DiCaprio as Howard Hughes in Miramax Films' The Aviator

Não é o melhor Scorsese da década, até porque creio que a obra-prima Gangues de Nova Iorque dificilmente será batida, mas não há dúvidas de que O Aviador é um filme fabuloso, e comprovei na revisão que fiz no fim-de-semana passado. Fica cada vez mais claro para mim que é um filme que fala, acima de tudo, sobre a solidão e sobre um homem que não se encaixa nos padrões da sociedade em que vive (um personagem tipicamente scorsesiano). O roteiro do John Logan (que já roteirizou bombas como O Último Samurai) acerta em não mostrá-lo como um louco, e sim como um humano; ele tinha todo o dinheiro do mundo mas não encontra a felicidade.

Já a direção de Scorsese, a melhor do ano passado, consegue criar um clima clássico, extremamente década de 50, que impera durante todo o filme. Cria também planos cenas lindas, de cair o queixo, como a que mostra a queda de um avião em Bervelly Hills (onde a câmera filma aquilo à flor da pele; criando uma atmosfera de horror), ou então o plano final, com um close no rosto do DiCaprio (em uma atuação impecável, uma das melhores do ano passado), onde apenas 5 palavras (the way of the future) conseguem resumir toda a história do filme, terminando de modo pessimista a história. Mas há uma cena em que Scorsese filma como se estivesse mostrando um duelo daqueles clássicos faroestes (que ele já mostrou gostar tanto em Quem Bate à Minha Porta?): Howard Hughes, dentro da sala de projeção, pensa em como vai abrir umas garrafas de leite (a iluminação nessa cena, com a luz toda focada nas garrafas e em Howard e deixando todo o resto escurecido, é maravilhosa, aliás).

E ainda há a Cate Blanchett, a fotografia, a trilha sonora...


Ouvindo: Johnny Cash - I Walk the Line

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Filmes do mês, até o momento

Lembrando: filmes revistos entre /barrinhas/



No Silêncio da Noite (In a Lonely Place, 1950, Dir: Nicholas Ray) - *****

Matei Jesse James (I Shot Jesse James, 1949, Dir: Samuel Fuller) - ****

Barton Fink (idem, 1991, Dir: Joel Coen) - ****

/O Aviador/ (The Aviator, 2004, Dir: Martin Scorsese) - ****


Eu ainda vou fazer uma mega-atualização aqui. Pretendo fazer um comentário sobre como O Aviador se saiu na revisão e um texto sobre Barton Fink, um dos filmes mais loucos (e um dos melhores, com certeza) dos Coen. Matei Jesse James e No Silêncio da Noite também ganhariam comentários caso os tivesse visto a menos tempo, mas são dois filmaços, sendo o do Ray uma obra-prima (e eu ainda pretendo explicar o por quê disso).

Ouvindo: Wilco - Nothing'severgonnastandinmyway (Again)

domingo, fevereiro 05, 2006

O Rei da Comédia

As Loucuras de Dick e Jane (Fun with Dick and Jane)

Jim Carrey in Columbia Pictures' Fun with Dick and Jane

O mais curioso apresentado pelo roteiro de Judd Apatow (diretor e roteirista O Virgem de 40 Anos, que não pude conferir ainda) é como ele mostra o sonho americano sendo desconstruido aos poucos: o filme começa e logo vemos uma bela casa, a família feliz, o sonho de qualquer pessoa. Porém, logo depois de alguns minutos, Dick e sua família estão na completa miséria, e logo quando ele acabava de ser promovido a vice-presidente da empresa em que trabalha. Apatow também aproveita para lançar um cutucão nas grandes empresas, mas acho que a principal intenção dele era mesmo fazer o politicamente incorreto, escrever cenas absurdas e ainda assim arrancar risos (pelo menos os meus), e criar boas piadas, como uma que envolve a Enron (mas parece que pouca gente do cinema a entendeu

Mas é Jim Carrey o maior atrativo do filme. O personagem cai como uma luva em sua mão, sem dúvida alguma. Um dos melhores papéis dele na comédia, e ele tem uma ótima química com Téa Leoni, que, apesar de todo o esforço, não consegue alcançar o mesmo grau de genialidade do seu parceiro




Ouvindo: The New Pornographers - The Bleeding Heart Show

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Algumas linhas preguiçosas sobre o Oscar + Filmes do Mês

Bem, ontem saíram os indicados para o Oscar, e, como sempre, meu desempenho não foi lá essas coisas todas. Dos 40 indicados, acertei 29 (um a mais que no ano passado), e fiquei com uma média de 72%. Walk the Line surpreendentemente ficou de fora, como vocês provavelmente já sabem, e confesso que fui muito equivocado em ter apostado em Ponto Final.

Mas, agora, os filmes vistos no mês:

Tudo em Família (The Family Stone, 2005, Dir: Thomas Bezucha) - **
As Loucuras de Dick e Jane (Fun With Dick and Jane, 2005, Dir: Dean Parisot) - ***
Clean (idem, 2004, Dir: Olivier Assayas) - ***

/Embriagado de Amor/ (Punch-Drunk Love, 2002, Dir: Paul Thomas Anderson) - *****
Cabra-Cega (idem, 2004, Dir: Toni Venturi) - ****
Pavor Nos Bastidores (Stage Fright, 1950, Dir: Alfred Hitchcock) - **

Um Estranho no Ninho (One Flew Over the Cuckoo's Nest, 1975, Dir:: Milos Forman) - *****
/O Terminal/ (The Terminal, 2004, Dir: Steven Spielberg) - **

/Um Filme Falado/ (idem, 2003, Dir: Manoel de Oliveira) - ****


Ouvindo: Bob Dylan - It Takes a Lot To Laught, it Takes a Train to Cry