Punch Drunk Movies


Punch Drunk Movies

I have come here to chew bubble gum and kick ass... and I'm all out of bubble gum.

sexta-feira, outubro 28, 2005

Amor a qualquer custo

O Jardineiro Fiel (The Constant Gardner, 2005, Dir: Fernando Meirelles)

Ralph Fiennes and Rachel Weisz in Focus Features' The Constant Gardener

Belíssima essa primeira investida de Meirelles no cinema estrangeiro. O roteiro de Jeffrey Caine, baseado em obra escrita por John Le Carré, consegue fazer uma árdua crítica a indústria farmeceutica sem soar panfletário, ou então ser mais um exemplo de filme-denuncia que só tem a dizer o que já é conhecido por grande parte da população (um exemplo? O documentário "Super Size Me"). Caine foca o relacionamento entre os personagens de Ralph Fiennes (Justin) e Rachel Weisz (Tessa) de um modo completo, mostrando desde o momento em que estes se conheceram até a morte da segunda. Dá também uma ambiguidade ao protagonista dificil de se ver em thrillers, que na maioria das vezes se preocupam com o desfecho que o filme irá levar que com a relação entre os personagens.

A direção de Meirelles também é de extrema competência. Cenas emocionantes, como a que o personagem de Fiennes recebe a notícia da morte de sua esposa (um close no rosto do personagem durante a maior parte do tempo, só utilizando a trilha sonora no final da cena). A câmera é muito bem conduzida, criando planos excelentes como a cena final. Meirelles também cria uma narrativa delicada, sem ser apelativa ou melodramática (é um filme bem sincero).

Ralph Fiennes e Rachel Weizs (uma das melhores atrizes coadjuvante do ano) estão excelentes com uma química também muito boa. A fotografia e a edição também são ótimas.

Cotação: 4/5 (7.5)

Ouvindo: Wilco - Company in my Back

terça-feira, outubro 18, 2005

Alguns Filmes

Como no post passado, coloco aqui três filmes com pequenos comentários sobre eles (creio que eu continue a fazer isso constantemente):

A Vida Marinha com Steve Zissou (The Life Aquatic with Steve Zissou, 04, Dir: Wes Anderson) - 5/5 (10)

Michael Gambon , Anjelica Huston , Noah Taylor , Bud Cort , Bill Murray , Seu Jorge , Cate Blanchett and Willem Dafoe in Touchstone Pictures' The Life Aquatic with Steve Zissou

Depois de um certo tempo sai, finalmente, (digo "finalmente" pois todo ano sai ao menos um único DEZ) o primeiro filme de nota máxima do ano: "A Vida Marinha com Steve Zissou". Sou fanático por "Os Excêntricos Tenebaums" (o melhor do seu ano, assim "A Vida..."), e ainda fico impressionado com o universo único, singular que Anderson é capaz de criar. Mas o interessante é que os seus personagens sempre ganham a humanidade necessária: Steve Zissou é um sujeito complexo, e que não consegue se acostumar com a idéia de ser pai, de ter uma responsabilidade tão grande como isso. Aliás, a relação de "pai e filho" é retratada aqui de um modo muito sensível. A cena final do filme bem que pode ser "a cena do ano", com Zissou fumando maconha, sentado, fugindo da confusão de sua vida ("Isso é uma grande aventura", diz ele). Além do roteiro fabuloso (escrito numa parceiria de Anderson com Noan Baumbach), a direção também se destaca bastante: Anderson cria planos-sequencia muito bem feitos, como a apresentação do Belafonte (o navio do Team Zissou). Outras duas sequencias que me chamaram a atenção foi aquela do encontro da equipe de Steve com o tubarão-jaguar, e também aquela em que toca "Search and Destroy": essa última me pegou de surpresa, e é um daqueles momentos em que imagem e som entram em perfeita harmonia. A atuação de Bill Murray também é brilhante; vem se mostrando um ator fora de série, impressiona o fato dele mostrar os sentimentos de seus personagens somente com um olhar (falar isso é bem piegas, mas é verdade). Há também um misto de melancolia e humor muito bem sucedido.

A Queda! As Últimas Horas de Hitler (Der Untergang, 03, Dir: Oliver Hisrchbiegel) - 3.5/5 (7.0)



Bom filme. Interessante o modo como é mostrado as últimas horas de um dos maiores personagens da Segunda Guerra Mundial, Adolf Hitler. O roteiro explora muito bem o seu estado mental naquele momento, quando o próprio já sabia que estava prestes a perder a guerra e que a hora da sua morte estava prestes a chegar. Aliás, devido a este último o filme meio que ganha um clima meio mórbido. A direção de Oliver Hirschbiegel nos entrega momentos intensos, como a cena em que mostra o suicídio (sacrificio?) da família de Hitler. As cenas de guerra são belas, assim como a fotografia. Peca lá pelo terceiro ato, ao se entregar ao "arranca-lágrimas". Ah, e a atuação de Bruno Ganz é realmente excelente, de grande sensibilidade (destaque também para Alexandra Maria Lara, interpretando a fiel secretária de Hitler).

Oldboy (idem, 03, Dir: Park Chan-Wook) - 5/5 (9.0)

Choi Min-Sik as Dae-Su in Tartan's Oldboy

Maravilhoso esse filme do Park Chan-Wook. O roteiro é excelente: possui uma construção de história original e complexa, e que ainda conta com uma revelação final que transforma a trama em algo completamente diferente do imaginado. Dá uma ambiguidade a um personagem que poderia ser construído muito bem como o "vilão inescrupuloso", mostrando meio que "uma vingança leva a outra vingança". A direção de Park também é bastante inventiva: enquadramentos primorosos (as sequencias passadas dentro do quarto de hotel, por exemplo, exercem no espectador uma certa ansiedade; clima de claustrofobia mesmo), cenas violentas que possuem uma estética sensacional (remete muito ao cinema do Tarantino), e outras dirigidas com um ritmo alucinante, como no momento em que o protagonista luta contra inúmeras pessoas somente com o seu martelo (lembra a cena dos "88 loucos" em Kill Bill, mas em "Oldboy" ela é feita com poucos cortes, somente com uma câmera sendo deslocada para os lados). Outro destawur é a inspirada atuação de Choi Min-Sink (o que também pode ser dito sobre Ji-tae Yu). Grande filme.

P.S.: Creio que esse blog vai sofrer uma ausência de comentários maiores, mais detalhados. Não gosto muito de escrever somente 10, 15 linhas sobre determinado filme, mas acho que estou sofrendo um bloqueio eterno (isso mesmo, eterno). Por exemplo: acho que não falei tudo o que eu queria sobre "A Vida Marinha...", ou então me expressei mal. Droga.

Ouvindo: Seu Jorge - Life on Mars

quarta-feira, outubro 12, 2005

Três filmes em um post

Bem, como não quero de modo algum deixar esse espaço jogado as moscas, coloco comentários sobre três filmes que vi recentemente:

A Feiticeira (Bewitched, 05) - 1/5 (3.5) (Spoilers)

Nicole Kidman in Columbia Pictures' Bewitched

Não há muito o que falar de "A Feiticeira". Cumpre minha expectativa de ser uma produção muito ruim, mas vamos resumidamente explicar a razão disto. O roteiro segue toda a fórmula de comédias românticas: o casal que se odeia mas aos poucos vai descobrindo que se ama, e no final acaba por ter aquela mensagem bonitinha de que o amor rompe qualquer barreira de diferenças entre as pessoas. O fato da história se passar atualmente rende uma boa brincadeirinha com metalinguagem, mas nada que salve o filme: ainda existem por lá personagens irritantes, como a vizinha da personagem de Nicole Kidman e o personagem de Jason Schwartzman. A direção de Nora Ephron também não é nenhuma maravilha. Se mostra uma diretora de elenco bem fuleira (Nicole Kidman está muito contida; ma das piores atuações da moça). Mas Will Ferrell é o pior em cena: exageradíssimo e chega ao ponto de ser constrangedor (além de quer roubar a cena quase o tempo todo).


A Felicidade Não se Compra (It's Wonderful Life, 46) - 5/5 (9.5)



Belíssimo esse filme do Capra. Meu primeiro contato com o cinema dele e já começo muitíssimo bem. É impressionante como ele consegue fazer um filme tocante sem apelar para o melodrama; é extremamente sincero. O roteiro também é ótimo, tem uma história bonita, com uma mensagem otimista no final, que consegue levantar o astral mesmo da pessoa mais deprimida, acredito ("Nenhum homem no mundo pode ser um fracassado quando se tem amigos"). James Stewart também está maravilhoso, assim como o adorável Henry Travers.

Gosto de Sangue (Blood Simple, 85) - 4.5/5 (8.5)

Frances McDormand as Abby in USA Films' Blood Simple

Filmaço de estréia dos Irmãos Coen. Sou fã do trabalho dos caras, acho Fargo e O Homem que Não Estava Lá, por exemplo, produções fantásticas. O filme possui belíssimos enquadramentos, takes com câmera na mãe nas sequencias de maior tensão, demonstra uma habilidade incrível em movimentar, deslocar a câmera. O roteiro também é muito inspirado, com um desenvolvimento imprevisível, interessantes personagens em busca de vingança, e um final deliciosamente irônico. Ah, e um TOP 5 deles ficaria assim:

1 - Fargo
2 - O Homem que não Estava Lá
3 - Gosto de Sangue
4 - Ajuste Final
5 - O Amor Custa Caro

É isso, até a próxima!

Ouvindo: Wilco - I'm The Man Who Loves You

segunda-feira, outubro 03, 2005

"B", de bom

Assalto a 13ª DP. (Assault on Precinct 13, 05)

Aisha Hinds , John Leguizamo , Ethan Hawke , Ja Rule, Maria Bello , Laurence Fishburne and Drea De Matteo in Rogue Pictures' Assault on Precinct 13

“Assalto a 13ª DP” é, muito provavelmente, o filme com mais espírito de “Filme B” do ano. Refilmagem do clássico de John Carpenter (de mesmo título), o filme dirigido por Jean-François Richet tem um orçamento baixo (de apenas 20 milhões de dólares), é violento, e tem um sangue bem trash por lá (além de um roteiro muito bem amarrado). Mas isso não é, de maneira alguma, uma coisa depreciativa: o “Filme B” significa “Filme Bom”, e hiper divertido.

É véspera de ano novo, e o Sargento Jake Roenick (Ethan Hawke), um homem amargurado por achar que poderia ter salvo a vida de seus parceiros em uma operação policial, comemora a chegada do novo ano no departamento policial em que trabalha, juntamente com sua secretária e um policial veterano. Porém, eles recebem um aviso de que alguns prisioneiros, por causa da péssima condição das estradas, terão que passar a noite na delegacia onde Roenick trabalha. Entre eles, está um perigoso criminoso, que é conhecido por ter assassinado alguns policiais. Quando tudo parece ter finalmente voltado ao normal, um grupo de pessoas aparece armado, pronto para assaltar a 13ª DP. Com isso, criminosos e policiais terão que interagir para salvar suas próprias vidas.

O roteiro escrito por James DeMonaco aborda um fato de modo muito interessante: a convivência entre a polícia e os presidiários. Quando eles começam a ter que ajudar uns aos outros algumas perguntas começam a ciricular na cabeça de quem assiste ao filme: “como eles conseguirão confiar uns nos outros?” ou “se um deles for o ‘culpado’ pelo o que está acontecendo?”. Outro ponto forte é a construção que o personagem de Hawke leva: ele não é o típico herói de filmes de ação; muito pelo contrário, já que ele vive seus próprios problemas, como a dependência em remédios. Mas o que, muito provavelmente, é a melhor coisa do filme é que DeMonaco não possui “pena” de matar seus personagens: todos são mortos com frieza, e de maneira bem sanguinária.

A direção de Jean-François também é muito boa. Possui uma narrativa bastante ágil, envolvente e sempre muito tensa. Algumas seqüências, aliás, são filmadas com grande competência, como, principalmente, a que se passa dentro de uma igreja, no primeiro momento em que aparece o personagem de Fishburn. Os enquadramentos adotados por ele algumas vezes chamam a atenção, ou também movimentos interessantes de câmera, como na cena em que o personagem de Hawke está em dúvida se mata ou não uma certa pessoa (não vou dizer quem é para não estragar a surpresa).

O elenco também está competente, mas nada de espetacular. Laurence Fishburn tem uma interpretação interessante, assim como o sempre subestimado Ethan Hawke (mas creio que nada baterá suas performances em “Antes do Amanhacer” e “Antes do Pôr-do-Sol”). John Leguizano também está bem, mas seu personagem por vezes serve apenas como alívio cômico. De resto, nenhum que mereça maiores destaques.

Enfim, “Assalto a 13ª DP” serve como uma deliciosa pipoca. Filme B (e de bom), com violência gore e uma bela direção de arte que merece ser descoberto.


Cotação: 3.5/4 (7.0)

Ouvindo: The Arcade Fire - Haiti