Do Outro Lado do Rio
Diários de Motocicleta (idem, 04)
“Diários de Motocicleta” não é um filme sobre Che Guevara. É um filme sobre Ernesto Guevara e seu amigo Alberto Granado. E este último não é um amigo qualquer. Os dois embarcam nesta viagem como dois meninos, e voltam como dois homens. É nesta viagem que Guevara se tornou o que viria a ser (um revolucionário). E é uma pena que pessoas como ele sejam vistas como vilões em uma sociedade capitalista como a nossa. Agora, o que mais vale é o “ter” do que o “ser” (enquanto que o contrário deveria ocorrer). E isto é uma coisa quase que impercebível (o que justifica o fato de tanto preconceito no mundo). E este filme dirigido pelo brasileiro Walter Salles pode ser classificado como um colírio para os olhos de cada pessoa.
Alberto Granado (Rodrigo de La Serna), um bioquímico, e Ernesto Guevara (Gael García Bernal), um estudante de medicina, decidem embarcar em uma viagem. O veículo? A moto “la Poderosa”. O objetivo? Ir da Argentina até o extremo norte da América do Sul. E por que decidem viajar? Não sabem; viajam por viajar mesmo. Mas o que estes dois jovens não sabem é que suas vidas vão mudar de um certo modo, principalmente na formação de seus ideais, que iam caminhar com eles (principalmente com Guevara) pelo resto de suas vidas.
O roteiro escrito por Jose Rivera, baseado a partir dos diários escrito por Guevara e Granado, possui uma das mais belas mensagens vistas nos cinemas nos últimos anos: todos somos iguais. Os leprosos são tão normais quanto as pessoas sadias; os negros não possuem diferenças em relação ao branco; e o pobre é pode ser tão bom quanto ao rico. E tudo isto é dito de uma maneira um tanto poética (a cena em que Guevara atravessa o rio para comemorar o seu aniversário com os doentes de lepra é belíssima), sem nunca cair no clichê. A construção dos dois protagonistas também merece destaque: tanto Ernesto Guevara (que mais tarde, como todos sabem, viria a ser conhecido como Che Guevara) quanto Alberto Granado são pessoas normais; brigam e discutem como qualquer outra e não abrem mão de uma mulher como qualquer homem. Também é interessante ver que a formação do ideal que Guevara levaria até a morte veio com esta viagem. Afinal, como ele mesmo chega a dizer, “como saber da nostalgia do mundo sem antes conhece-lo?” (não necessariamente com estas palavras).
A direção de Salles também consegue ser brilhante: a narrativa que ele impõe ao filme consegue ser emocionante sem ser muito melodramática; e a jornada feita pelos protagonistas é sempre divertida, sem nunca parecer monótona. Ele também constrói planos belíssimos: muitas vezes, Salles filma uma paisagem ou enquadra Guevara e Granado em sua moto com perfeição, sempre devidamente acompanhada com a excelente trilha do competente Gustavo Santaolala (mesmo compositor de trilha como a de “Amores Brutos” e “21 Gramas”). Mas uma das tomadas mais bonitas (e que, não sei porque, me tocoram bastante) é aquela que, depois dos leitreiros finais, é filmado o rosto de verdadeiro Alberto Granado (já velho, é claro), e aquele em que são mostradas, sob uma fotografia em preto e branco, as várias pessoas que passaram pela viagem de Guevara e Granado.
As performances de Gael García Bernal e Rodrigo de la Serna também são excelentes. O primeiro se encontra fiel ao seu personagem e nunca parece exagerado; e o segundo interpreta brilhantemente seu personagem: com um carisma invejável, La Serna logo ganha a simpatia do espectador, e nas cenas mais emocionantes ele também não decepciona. Uma grande injustiça terem o deixado de fora na cerimônia do Oscar este ano.
Enfim, “Diários de Motocicleta” é um filme excepcional. Com uma mensagem belíssima que nunca soa clichê, Walter Salles cria um dos melhores filmes do ano, chegando a ser até mesmo um ouço melhor do que o excelente “Central do Brasil”.
Cotação: 5/5
“Diários de Motocicleta” não é um filme sobre Che Guevara. É um filme sobre Ernesto Guevara e seu amigo Alberto Granado. E este último não é um amigo qualquer. Os dois embarcam nesta viagem como dois meninos, e voltam como dois homens. É nesta viagem que Guevara se tornou o que viria a ser (um revolucionário). E é uma pena que pessoas como ele sejam vistas como vilões em uma sociedade capitalista como a nossa. Agora, o que mais vale é o “ter” do que o “ser” (enquanto que o contrário deveria ocorrer). E isto é uma coisa quase que impercebível (o que justifica o fato de tanto preconceito no mundo). E este filme dirigido pelo brasileiro Walter Salles pode ser classificado como um colírio para os olhos de cada pessoa.
Alberto Granado (Rodrigo de La Serna), um bioquímico, e Ernesto Guevara (Gael García Bernal), um estudante de medicina, decidem embarcar em uma viagem. O veículo? A moto “la Poderosa”. O objetivo? Ir da Argentina até o extremo norte da América do Sul. E por que decidem viajar? Não sabem; viajam por viajar mesmo. Mas o que estes dois jovens não sabem é que suas vidas vão mudar de um certo modo, principalmente na formação de seus ideais, que iam caminhar com eles (principalmente com Guevara) pelo resto de suas vidas.
O roteiro escrito por Jose Rivera, baseado a partir dos diários escrito por Guevara e Granado, possui uma das mais belas mensagens vistas nos cinemas nos últimos anos: todos somos iguais. Os leprosos são tão normais quanto as pessoas sadias; os negros não possuem diferenças em relação ao branco; e o pobre é pode ser tão bom quanto ao rico. E tudo isto é dito de uma maneira um tanto poética (a cena em que Guevara atravessa o rio para comemorar o seu aniversário com os doentes de lepra é belíssima), sem nunca cair no clichê. A construção dos dois protagonistas também merece destaque: tanto Ernesto Guevara (que mais tarde, como todos sabem, viria a ser conhecido como Che Guevara) quanto Alberto Granado são pessoas normais; brigam e discutem como qualquer outra e não abrem mão de uma mulher como qualquer homem. Também é interessante ver que a formação do ideal que Guevara levaria até a morte veio com esta viagem. Afinal, como ele mesmo chega a dizer, “como saber da nostalgia do mundo sem antes conhece-lo?” (não necessariamente com estas palavras).
A direção de Salles também consegue ser brilhante: a narrativa que ele impõe ao filme consegue ser emocionante sem ser muito melodramática; e a jornada feita pelos protagonistas é sempre divertida, sem nunca parecer monótona. Ele também constrói planos belíssimos: muitas vezes, Salles filma uma paisagem ou enquadra Guevara e Granado em sua moto com perfeição, sempre devidamente acompanhada com a excelente trilha do competente Gustavo Santaolala (mesmo compositor de trilha como a de “Amores Brutos” e “21 Gramas”). Mas uma das tomadas mais bonitas (e que, não sei porque, me tocoram bastante) é aquela que, depois dos leitreiros finais, é filmado o rosto de verdadeiro Alberto Granado (já velho, é claro), e aquele em que são mostradas, sob uma fotografia em preto e branco, as várias pessoas que passaram pela viagem de Guevara e Granado.
As performances de Gael García Bernal e Rodrigo de la Serna também são excelentes. O primeiro se encontra fiel ao seu personagem e nunca parece exagerado; e o segundo interpreta brilhantemente seu personagem: com um carisma invejável, La Serna logo ganha a simpatia do espectador, e nas cenas mais emocionantes ele também não decepciona. Uma grande injustiça terem o deixado de fora na cerimônia do Oscar este ano.
Enfim, “Diários de Motocicleta” é um filme excepcional. Com uma mensagem belíssima que nunca soa clichê, Walter Salles cria um dos melhores filmes do ano, chegando a ser até mesmo um ouço melhor do que o excelente “Central do Brasil”.
Cotação: 5/5
Até mais e abraços; Rodrigo
Ouvindo: Jorge Drexler - Al Otro Lado del Río; Bob Dylan - Most Of The Time
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