Um sorriso vale mais que mil palavras
Whisky (idem, 04)
Uma fotografia não diz nada. Nela, as pessoas aparecem felizes, sorrindo, mas tudo aquilo nem sempre é verdadeiro; aquilo tudo é só a superfície. Em “Whisky”, os personagens só aparecem “felizes” quando estão posando para uma foto, porque por dentro eles não são assim. Muito pelo contrário: são tristes, vivem presos em um monótona rotina, e não possuem assunto para conversar. E este é o grande mérito desta produção Uruguaia, dirigido pelos amigos Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll: é um estudo fantástico em cima dos três protagonistas (e suas relações), misturando melancolia com uma pitada de humor.
Jacobo é dono de uma pequena fábrica que faz meias, e que tem como funcionária Marta (Mirella Pascual), sempre a primeira a chegar e a última a sair. Os dois pouco conversam, mas vivem presos em uma mesma rotina. Certo dia, a mãe de Jacobo morre, e ele recebe a notícia de que seu irmão, Herman (que vive no Brasil e que também possui uma fábrica de meias), virá para o Uruguai. Como ele (Jacobo) não possui uma vida nenhum pouco interessante, ele convida Marta para “ser” sua mulher enquanto seu irmão estiver na sua casa. E, conseqüentemente, passarão a viver uma mentira dia após dia.
Talvez o mais admirável do roteiro escrito por Gonzalo Delgado, Pablo Rebella e Pablo Stoll é fazer de uma premissa que tinha tudo para dar em um comédia bobinha e esquecível em um filme sério e que constrói seus personagens com o máximo de cuidado. Aliás, estes personagens, como falei no início do texto, são uma das grandes atrações: Marta e Jacobo, principalmente, vivem em uma rotina chata; todo dia é a mesma coisa. E quando Herman chega ao Uruguai notamos que suas vidas mudam de uma certa forma: ao contrário de ir trabalhar, Jacobo vai a um estádio de futebol, xingar o juiz que não marcou o pênalti para seu time; Marta fuma o seu cigarro à beira da praia, e não mais nos fundos da fábrica; e por aí vai. Mas o melhor de tudo é que isto é feito com uma enorme simplicidade e pouca pretensão.
Rebella E Stoll, na sua direção, impõe uma narrativa que possui uma espécie de “humor melancólico”: vemos um pouco de comédia na história, mas esta é triste, com personagens infelizes. A narrativa do filme também é bastante delicada (assim como os protagonistas da trama). Outro grande ponto forte são os elegantes enquadramentos concebidos pela dupla de diretores; e se notarmos bem veremos que estes se repetem várias vezes ao longo da produção, talvez com o propósito de ilustrar a mesmice da vida dos personagens (por exemplo: vemos vária vezes o close nas máquinas que fazem meias; no portão sendo aberto; etc.).
As atuações de Andrés Pazos, Jorge Bolani e Mirella Pascual são excelentes. O segundo consegue ser extremamente carismático (o que faz, é lógico, com que gostemos de seu personagem); mas quem rouba a cena é Pazos e Pascual: somente pelo olhar deles sabemos o que seu personagem está passando. E eles não exageram nunca; construindo dois adoráveis personagens.
Enfim, “Whisky” é um ótimo filme. Não é uma grande obra-prima, mas consegue ser simples, direto ao ponto, e, ainda assim, consegue fazer um trama original com um excelente estudo de personagens.
Cotação: 4/5 (8,0)
Ouvindo: Weezer - Undone
Uma fotografia não diz nada. Nela, as pessoas aparecem felizes, sorrindo, mas tudo aquilo nem sempre é verdadeiro; aquilo tudo é só a superfície. Em “Whisky”, os personagens só aparecem “felizes” quando estão posando para uma foto, porque por dentro eles não são assim. Muito pelo contrário: são tristes, vivem presos em um monótona rotina, e não possuem assunto para conversar. E este é o grande mérito desta produção Uruguaia, dirigido pelos amigos Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll: é um estudo fantástico em cima dos três protagonistas (e suas relações), misturando melancolia com uma pitada de humor.
Jacobo é dono de uma pequena fábrica que faz meias, e que tem como funcionária Marta (Mirella Pascual), sempre a primeira a chegar e a última a sair. Os dois pouco conversam, mas vivem presos em uma mesma rotina. Certo dia, a mãe de Jacobo morre, e ele recebe a notícia de que seu irmão, Herman (que vive no Brasil e que também possui uma fábrica de meias), virá para o Uruguai. Como ele (Jacobo) não possui uma vida nenhum pouco interessante, ele convida Marta para “ser” sua mulher enquanto seu irmão estiver na sua casa. E, conseqüentemente, passarão a viver uma mentira dia após dia.
Talvez o mais admirável do roteiro escrito por Gonzalo Delgado, Pablo Rebella e Pablo Stoll é fazer de uma premissa que tinha tudo para dar em um comédia bobinha e esquecível em um filme sério e que constrói seus personagens com o máximo de cuidado. Aliás, estes personagens, como falei no início do texto, são uma das grandes atrações: Marta e Jacobo, principalmente, vivem em uma rotina chata; todo dia é a mesma coisa. E quando Herman chega ao Uruguai notamos que suas vidas mudam de uma certa forma: ao contrário de ir trabalhar, Jacobo vai a um estádio de futebol, xingar o juiz que não marcou o pênalti para seu time; Marta fuma o seu cigarro à beira da praia, e não mais nos fundos da fábrica; e por aí vai. Mas o melhor de tudo é que isto é feito com uma enorme simplicidade e pouca pretensão.
Rebella E Stoll, na sua direção, impõe uma narrativa que possui uma espécie de “humor melancólico”: vemos um pouco de comédia na história, mas esta é triste, com personagens infelizes. A narrativa do filme também é bastante delicada (assim como os protagonistas da trama). Outro grande ponto forte são os elegantes enquadramentos concebidos pela dupla de diretores; e se notarmos bem veremos que estes se repetem várias vezes ao longo da produção, talvez com o propósito de ilustrar a mesmice da vida dos personagens (por exemplo: vemos vária vezes o close nas máquinas que fazem meias; no portão sendo aberto; etc.).
As atuações de Andrés Pazos, Jorge Bolani e Mirella Pascual são excelentes. O segundo consegue ser extremamente carismático (o que faz, é lógico, com que gostemos de seu personagem); mas quem rouba a cena é Pazos e Pascual: somente pelo olhar deles sabemos o que seu personagem está passando. E eles não exageram nunca; construindo dois adoráveis personagens.
Enfim, “Whisky” é um ótimo filme. Não é uma grande obra-prima, mas consegue ser simples, direto ao ponto, e, ainda assim, consegue fazer um trama original com um excelente estudo de personagens.
Cotação: 4/5 (8,0)
Ouvindo: Weezer - Undone
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