Esplendor Americano
Anti-Herói Americano (American Splendor, 04)
Você já pensou se poderia ser um personagem de uma história em quadrinho? Certamente não. Talvez porque você seja uma pessoa pessimista, gorda, e que é um fracasso em suas relações matrimoniais. Mas não desanime, você ainda pode ser protagonista de um gibi, caso este for seu sonho. Se você não acreditar é só ir assistir à este “Anti-Herói Americano”, que certamente você acreditará. Pois é, o protagonista deste filme que comento possui todas as características que citei acima, e, mesmo não parecendo ser uma espécie de “Superman” ou “Batman”, o personagem central de “Anti-Herói Americano” consegue, surpreendentemente, ser um herói.
Harvey Pekar (Paul Giamatti) é uma pessoa solitária, que já passou por dois fracassados casamentos. Ele sempre se achou uma pessoa desprezível, e trabalha como arquivista em um hospital. Fã de jazz, um dia Pekar vai à um lugar onde está vendendo vinis deste gênero de música, e lá encontra Robert Crumb (James Urbaniak), um jovem que possui um grande talento e para criar histórias inovadoras. Harvey passa a maior parte do tempo com Crumb, até que ele vai embora e vira uma pessoa famosa. E Harvey continua com sua rotina, até que ele decide escrever sua própria história em quadrinhos: não é um gibi sobre um super-herói, mas sim sobre o próprio Harvey e seu dia a dia, denominada “American Esplendor”. Ele não consegue nem ao menos fazer uma linha reta (como o personagem chega a afirmar durante o filme), então ele pede para seu amigo Robert (e depois outras pessoas) que façam a ilustração de seu gibi. Muitas pessoas começam a gostar da revista (principalmente seus colegas de trabalho, que sempre gostam de ver se eles entraram na nova edição da “American Splendor”), mas Harvey continua o mesmo, e com seu mesmo dia a dia, e, cada vez mais, ele se preocupa se ele continua sendo o Harvey Pekar de sempre, ou se este é só mais um personagem.
O roteiro é escrito por Robert Pulcini e Shari Springer Berman. Indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, o casal de roteiristas se destacam, principalmente, na caracterização do personagem: como falei no início desta crítica, Harvey Pekar é um sujeito gordo, pessimista, e que é um fracasso em relações matrimoniais, mas, mesmo assim, ele é um herói. Talvez, principalmente, pelo fato de Pekar ser uma pessoa normal, e talvez por isto muitas pessoas o considerem uma pessoa exemplar. Mas, o roteiro de “Anti-Herói Americano”, é claro, não se destaca somente pela caracterização do personagem central, mas também pela construção da trama ser bastante original e inovadora. E uma coisa que achei bastante original em “Anti-Herói Americano” é que às vezes ele funciona como um documentário: em vários momentos do filme, o espectador presencia imagens dos sets de filmagens, onde o Harvey Pekar real comenta sobre a sua vida, e às vezes nós vemos o Harvey Pekar real e o Harvey Pekar do filme, interpretado por Paul Giamatti. E além disto ser original, também funciona para o espectador conhecer mais sobre o próprio Harvey Pekar, o que não deixa de ser bastante interessante. Outro ponto positivo do roteiro são alguns momentos em que, vamos dizer, desenhos aparecem junto de pessoas reais; como por exemplo, a cena em que Harvey está decidindo qual fila irá pegar, no supermercado.
A direção também é feita por Robert Pulcini e Shari Springer Berman. Um dos pontos fortes desta direção, talvez seja a sua estrutura narrativa: ela ganha grande participação do roteiro, que, como nas histórias em quadrinhos, mostra, na maioria das vezes no alto da tela, coisas como “Enquanto Isso...”; “Segundos Depois...”; ou outras coisas do gênero; e, além disto, a narrativa do filme sempre é interessante, sempre envolvendo o espectador. Outro ponto forte da direção de Pulcini e Berman é a exploração dos personagens. Na verdade, a exploração de um personagem me pareceu mais interessante, e, como vocês já devem ter adivinhado, é a de Harvey Pekar: a dupla de diretores mostra extrema competência ao não mostrar Pekar como um gênio, pois isto poderia comprometer a direção dos dois neste aspecto; na verdade, Harvey Pekar é um sujeito fascinante: amante do jazz, Pekar não é um gênio, e sim uma pessoa extremamente original, e que, também por causa a performance de Paul Giamatti, acabou ganhando minha simpatia.
Enquanto as atuações, estas estão ótimas. Hope Davis está muito bem como a mulher de Harvey, Joyce. Sua personagem é uma pessoa excêntrica, mas que na maioria das vezes é uma pessoa gentil; Davis também faz de sua personagem uma pessoa carismática, fazendo com que ela ganhe a simpatia do espectador. Outro que se destaca, e foi, provavelmente, a maior surpresa em relação às atuações, é o ator Judah Friedlander, interpretando o “CDF Genuíno” Toby Radloff. Friendlader prova, aqui em “Anti-Herói Americano” ser um ator de talento, e que merece atenção. Mas a melhor performance fica por conta de Paul Giamatti. Seu Harvey Pekar é uma pessoa que, logo numa de suas primeiras seqüências, ganha a simpatia do espectador. Achei que ele merecia concorrer ao Oscar de Melhor Ator, pois sua interpretação de Harvey Pekar é espetacular, mas, como era de se esperar, ele acabou não concorrendo.
Enfim “Anti-Herói Americano” é um excelente filme. E Harvey Pekar, mesmo não tendo a mesma força física de um Batman ou um Superman, pode ser considerado tão “super-herói” quanto os próprios, somente pelo fato de ele ser como qualquer outra pessoa.
Até mais e abraços; Rodrigo
Ouvindo: The Smiths - Panic
PS: Oba! "Kinsey" estreou em minha cidade. Me parece ser um dos filmes mais interessantes do ano. Aliás, por falar em cinema, preciso tirar um atraso com aquela tela gigante. Se tudo corre como o esperado, neste mês irei ver "A Interprete", "Casa de Areia", "Star Ward: Episódio III" e "The Life Aquatic With Steve Zissou" (este aqui tem muitas chances de estrear limitadamente; tomara que não!).
Você já pensou se poderia ser um personagem de uma história em quadrinho? Certamente não. Talvez porque você seja uma pessoa pessimista, gorda, e que é um fracasso em suas relações matrimoniais. Mas não desanime, você ainda pode ser protagonista de um gibi, caso este for seu sonho. Se você não acreditar é só ir assistir à este “Anti-Herói Americano”, que certamente você acreditará. Pois é, o protagonista deste filme que comento possui todas as características que citei acima, e, mesmo não parecendo ser uma espécie de “Superman” ou “Batman”, o personagem central de “Anti-Herói Americano” consegue, surpreendentemente, ser um herói.
Harvey Pekar (Paul Giamatti) é uma pessoa solitária, que já passou por dois fracassados casamentos. Ele sempre se achou uma pessoa desprezível, e trabalha como arquivista em um hospital. Fã de jazz, um dia Pekar vai à um lugar onde está vendendo vinis deste gênero de música, e lá encontra Robert Crumb (James Urbaniak), um jovem que possui um grande talento e para criar histórias inovadoras. Harvey passa a maior parte do tempo com Crumb, até que ele vai embora e vira uma pessoa famosa. E Harvey continua com sua rotina, até que ele decide escrever sua própria história em quadrinhos: não é um gibi sobre um super-herói, mas sim sobre o próprio Harvey e seu dia a dia, denominada “American Esplendor”. Ele não consegue nem ao menos fazer uma linha reta (como o personagem chega a afirmar durante o filme), então ele pede para seu amigo Robert (e depois outras pessoas) que façam a ilustração de seu gibi. Muitas pessoas começam a gostar da revista (principalmente seus colegas de trabalho, que sempre gostam de ver se eles entraram na nova edição da “American Splendor”), mas Harvey continua o mesmo, e com seu mesmo dia a dia, e, cada vez mais, ele se preocupa se ele continua sendo o Harvey Pekar de sempre, ou se este é só mais um personagem.
O roteiro é escrito por Robert Pulcini e Shari Springer Berman. Indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, o casal de roteiristas se destacam, principalmente, na caracterização do personagem: como falei no início desta crítica, Harvey Pekar é um sujeito gordo, pessimista, e que é um fracasso em relações matrimoniais, mas, mesmo assim, ele é um herói. Talvez, principalmente, pelo fato de Pekar ser uma pessoa normal, e talvez por isto muitas pessoas o considerem uma pessoa exemplar. Mas, o roteiro de “Anti-Herói Americano”, é claro, não se destaca somente pela caracterização do personagem central, mas também pela construção da trama ser bastante original e inovadora. E uma coisa que achei bastante original em “Anti-Herói Americano” é que às vezes ele funciona como um documentário: em vários momentos do filme, o espectador presencia imagens dos sets de filmagens, onde o Harvey Pekar real comenta sobre a sua vida, e às vezes nós vemos o Harvey Pekar real e o Harvey Pekar do filme, interpretado por Paul Giamatti. E além disto ser original, também funciona para o espectador conhecer mais sobre o próprio Harvey Pekar, o que não deixa de ser bastante interessante. Outro ponto positivo do roteiro são alguns momentos em que, vamos dizer, desenhos aparecem junto de pessoas reais; como por exemplo, a cena em que Harvey está decidindo qual fila irá pegar, no supermercado.
A direção também é feita por Robert Pulcini e Shari Springer Berman. Um dos pontos fortes desta direção, talvez seja a sua estrutura narrativa: ela ganha grande participação do roteiro, que, como nas histórias em quadrinhos, mostra, na maioria das vezes no alto da tela, coisas como “Enquanto Isso...”; “Segundos Depois...”; ou outras coisas do gênero; e, além disto, a narrativa do filme sempre é interessante, sempre envolvendo o espectador. Outro ponto forte da direção de Pulcini e Berman é a exploração dos personagens. Na verdade, a exploração de um personagem me pareceu mais interessante, e, como vocês já devem ter adivinhado, é a de Harvey Pekar: a dupla de diretores mostra extrema competência ao não mostrar Pekar como um gênio, pois isto poderia comprometer a direção dos dois neste aspecto; na verdade, Harvey Pekar é um sujeito fascinante: amante do jazz, Pekar não é um gênio, e sim uma pessoa extremamente original, e que, também por causa a performance de Paul Giamatti, acabou ganhando minha simpatia.
Enquanto as atuações, estas estão ótimas. Hope Davis está muito bem como a mulher de Harvey, Joyce. Sua personagem é uma pessoa excêntrica, mas que na maioria das vezes é uma pessoa gentil; Davis também faz de sua personagem uma pessoa carismática, fazendo com que ela ganhe a simpatia do espectador. Outro que se destaca, e foi, provavelmente, a maior surpresa em relação às atuações, é o ator Judah Friedlander, interpretando o “CDF Genuíno” Toby Radloff. Friendlader prova, aqui em “Anti-Herói Americano” ser um ator de talento, e que merece atenção. Mas a melhor performance fica por conta de Paul Giamatti. Seu Harvey Pekar é uma pessoa que, logo numa de suas primeiras seqüências, ganha a simpatia do espectador. Achei que ele merecia concorrer ao Oscar de Melhor Ator, pois sua interpretação de Harvey Pekar é espetacular, mas, como era de se esperar, ele acabou não concorrendo.
Enfim “Anti-Herói Americano” é um excelente filme. E Harvey Pekar, mesmo não tendo a mesma força física de um Batman ou um Superman, pode ser considerado tão “super-herói” quanto os próprios, somente pelo fato de ele ser como qualquer outra pessoa.
Até mais e abraços; Rodrigo
Ouvindo: The Smiths - Panic
PS: Oba! "Kinsey" estreou em minha cidade. Me parece ser um dos filmes mais interessantes do ano. Aliás, por falar em cinema, preciso tirar um atraso com aquela tela gigante. Se tudo corre como o esperado, neste mês irei ver "A Interprete", "Casa de Areia", "Star Ward: Episódio III" e "The Life Aquatic With Steve Zissou" (este aqui tem muitas chances de estrear limitadamente; tomara que não!).
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