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Punch Drunk Movies

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quinta-feira, junho 30, 2005

Filme Pinot Noir

Sideways (idem, 04)

Paul Giamatti and Thomas Haden Church in Fox Searchlight's Sideways

Uma das coisas que mais gosto no trabalho de Alexander Payne é a forma como ele constrói seus personagens. Nos três filmes que assisti da sua filmografia (“Eleição”, “As Confissões de Schimidt” e, agora, “Sideways”), fica claro que ele gosta mesmo de trabalhar em cima de personagens que são completamente fracassados na vida. Em “Eleição”, o protagonista é o professor que todos os alunos gostam, mas, de repente, ver sua vida desmoronar; em “As Confissões de Schimidt”, Jack Nicholson vive um homem que não possui muitos motivos para viver, principalmente depois que sua mulher vem a morrer e sua filha está prestes a se casar com um homem que ele não gosta; mas acho que os personagens mais interessantes criado por Payne (juntamente com seu amigo Jim Taylor) são justamente Miles e Jack. Assim como “Sideways” é o seu melhor filme.

Miles (Paul Giamatti) é um professor de inglês, aspirante a escritor, que ama vinhos e que vive em uma profunda depressão depois que o seu casamento acabou. Jack (Thomas Haden Church) é um ator fracassado que, uma semana antes de seu casamento, decide fazer uma espécie de “despedida de solteiro” pelas vinícolas Californianas com Miles, com o objetivo de aproveitar o máximo que puder antes que ele se case. Porém, os dois conhecem duas mulheres durante a viagem: Maya (Virginia Madsen) e Stephanie (Sandra Oh). E, com isto, viverão grandes aventuras amorosas e muitas mentiras.

O roteiro escrito por Alexander Payne e Jim Taylor, baseado em um conto de Rex Picket, tem como grande mérito (como falei no início deste texto) a construção de seus personagens: Miles vive em grande depressão depois do seu divórcio, e, depois disso, passou a ter grandes dificuldades de se relacionar com outras mulheres e se tornou mais negativo (sem ter esperanças, por exemplo, de que seu livro possa ser publicado); e Jack, apesar de conseguir se dar muito bem com mulheres, não consegue esconder de si mesmo que sua carreira como ator está praticamente acabada. Além desse estudo feito acima deles, os personagens de “Sideways” também são humanos. Jack, por exemplo, é o amigo que todos tem (ou pelo menos gostariam e ter): só quer sexo, e aproveitar a vida. Aliás, vale dizer também que é brilhante como Payne e Taylor retratam o universo masculino (então não é de se espantar que os personagens mais interessante, Miles e Jack, sejam homens). Outra coisa interessante é que os dois roteiristas fazem uma metáfora dos personagens com vinhos. Em uma cena, Miles e Maya conversam (uma das partes mais legais do filme) sobre os mais diversos tipos de vinhos. Ele fala sobre o Pinot Noir, que, assim como os protagonistas da história, são sensíveis, e quem está os criando tem que ser pacientes, calmos (não é a toa que este é o preferido de Miles).

A direção de Alexander Payne consegue, assim como ele fez em “As Confissões de Schimidt”, mesclar muito bem o drama com a comédia. Em uma certa cena, por exemplo, vemos uma súbita mudança de narrativa: começa de maneira agradável, mas termina de maneira triste (com um telefonema de Miles para uma pessoa que não o quer mais). Porém existem momentos exclusivamente cômicos, como o dia de sexta-feira, em que Jack aparece de uma maneira inusitada onde ele está hospedado. Outros exclusivamente dramáticos, como em uma certa cena envolvendo Miles e sua ex-esposa. O final do filme também merece destaque: parece que Payne se especializou em criar finais abruptos (resta saber se “Ruth em Questão” também possui um assim), e este de “Sideways”, assim como o de seu filme anterior, é belíssimo.

As atuações do filme também são excelentes. Não é o que segura o filme, como eu esperava, mas todos estão, no mínimo, ótimos. Quem se destaca mais é realmente Paul Giamatti, com uma magistral atuação. Nas horas cômicas ele se sai perfeito; nas dramáticas surpreende. Ele já havia demonstrando ser um excelente ator em “Anti-Herói Americano”, mas agora isto foi comprovado. Só me gera indignação sua não-indicação ao Oscar. Thomas Haden Church também é outro que merece destaque com uma grande atuação. Está extremamente carismático, e não vejo ninguém melhor para este papel do que ele (aliás, também parece que sua escolha para o elenco não foi por mera coincidência, já que ele fazia sucesso em uma série de TV, assim como seu personagem). Virginia Madsen também está ótima. Dentre as indicadas ao Oscar continuo gostando mais da interpretação de Cate Blanchett em “O Aviador”, porém isto não tira os méritos da atuação de Madsen, que está simpática e fiel a sua personagem. Sandra Oh, esposa de Payne, está bem melhor que eu esperava. Não que ela roube a cena, mas esperava que ela estivesse um tanto apagada. Sua interpretação é bem carismática.

Enfim, “Sideways” é um pequeno grande filme. O melhor do Oscar deste ano, o melhor de Alexander Payne, e a comprovação de que Paul Giamatti é um excelente ator. O melhor do ano até agora.

Cotação: 5/5

Até mais e abraços; Rodrigo


Ouvindo: Devo - Gut Feeling