A sorte define o jogo
OBS: O texto a seguir contém spoilers. Melhor não ler, caso não tenha visto o filme.
Ponto Final realmente não é um filme que siga o padrão de outros filmes do Woody Allen, a começar pelo lugar onde se passa a história, Londres, e não mais Nova York; a troca do jazz para a ópera; e o protagonista que, bem, é bastante diferente de outros filmes do diretor. Também foi muito comparado a Crimes e Pecados, e pode até mesmo ter alguma semelhança com o filme de 1989, mas Ponto Final tem sim seus próprios méritos (e como tem!).
Para começo de história vale ressaltar que a introdução da ópera no filme é algo completamente feliz: dá um tom mais trágico ao filme, um certo quê de tristeza, e contribui para a tremenda intensidade de algumas cenas. As divagações sobre a sorte e o acaso (como logo aquela que abre o filme) e a metáfora que é feita entre um jogo de tênis e a vida também são maravilhosas. Há também uma conclusão final bárbara, que é construída de um modo incrivelmente inteligente (e que nos faz pensar ainda mais sobre o acaso, sorte, etc.). A dupla de detetives que aparecem lá pela metade final do filme parece ter saído de um filme do Hitchcock, e são donos de um dos melhores diálogos do filme.
Scarlett Johansson está sensacional no papel da "loira fatal", daquelas que parecem ter saído de um filme noir da década de 40 (a primeira cena em que ela aparece é genial), e Jonhattan Rhys-Meyers é outro que está brilhante, se entregando de um modo surpreendente ao personagem (e até agora não consegui engolir como ele foi tão subestimado nas premiações desse ano). Aliás, ele também é o protagonista da provavelmente melhor cena do filme: a conversa entre ele, Nola e a vizinha desta depois de ter assassinado as duas últimas. Aí que vemos que a sorte poderia até estar do seu lado, mas ele nunca conseguirá ter a paz de espírito.
Ouvindo: Pavement - Elevate me Later