I have come here to chew bubble gum and kick ass... and I'm all out of bubble gum.
quinta-feira, agosto 25, 2005
Mea Culpa
Estava escrevendo um texto sobre "Nossa Música", mas acabei apagando tudo (seu babaca!). E parece que faz um tempinho que fico sem postar aqui. Oito dias; é um recorde! Mas pretendo acabar com isso próxima semana. Mas vi alguns filmes legais nas últimas semanas: "Be Cool" (6.0) e "Espanglês" (6.5) são coisas bem simpáticas; gostei. E "Era uma Vez na América" talvez seja o melhor Leone, na minha opinião. Talvez em breve faça um comentário (nem que seja pequeninho) sobre alguns deles.
Até mais e abraços; Rodrigo
Ouvindo: Sex Pistols - God Save The Queen (eu nunca ouvi tanto Sex Pistols como agora; estou ficando maluco com essa banda).
A Fantástica Fábrica de Chocolates (Charlie and the Chocolate Factory, 2005)
Tim Burton sabe fantasticamente como contar uma fábula com tremenda originalidade. “Edward Mãos de Tesoura”, por exemplo, é sombrio, mórbido, mas ainda assim sensível. O mesmo ocorre com o mais recente “Peixe Grande”, que, assim como “Edward”, ainda mistura elementos surreais. Até mesmo “Ed Wood” (o melhor dele), uma cinebiografia e não uma fábula, mostra-se extremamente original (alguns diretores podiam seguir esse exemplo...). Agora, com a refilmagem do clássico filme dirigido por Mel Stuart (que muitos trintões amam, mas ainda não conferi), Burton realiza outra produção que se encaixa perfeitamente no estilo dos outros citados, e que é igualmente (ou mais, quem sabe; preciso rever antes de tirar qualquer conclusão mais precipitada) adorável.
Charlie é um garoto humilde que vive com seus avós e seus pais. Willy Wonka é o dono da maior fábrica de chocolates do mundo, mas, em um certo tempo, teve que expulsar todos os funcionários da fábrica e passou a viver recluso, sem contato com ninguém do mundo de fora, dentro desta. Um dia, ele decide colocar uma promoção: as cinco primeiras crianças que encontrarem um bilhete dourado que vem dentro das embalagens dos chocolates “Wonka” poderão fazer uma visita a fábrica e, no final, ganharão um prêmio especial. Entre estes ganhadores, está Augustus, garoto guloso, Violet e Veruca, garotas mimadas, e Mike TV, garoto que não para de jogar vídeo-game. E no meio deles está Charlie, que tentará a todo custo ganhar o prêmio.
Como coloquei no primeiro parágrafo, nunca vi a versão original de “A Fantástica Fábrica de Chocolates”, a de 1971. Com isso, não vou poder falar o que melhorou ou o que piorou na versão de 2005. Mas é interessante que Burton, mais uma vez, explore a relação entre “pai e filho”. O roteiro de John August mostra que Willy Wonka também tinha problemas familiares. Segundo minhas fontes (pais, tios, tias), isso foi acrescentado na história, e o Wonka feito por Gene Wilder era mais gentil, carinhoso (mas, de qualquer forma, terei que ver o filme para tirar uma conclusão). E se o Willy Wonka da década de 70 era assim, creio que gostaria mais do Wonka desse ano. É difícil ver um sujeito que poderia ser o ídolo de toda criança ganhar uma ambigüidade imensa como é feita em “A Fantástica Fábrica de Chocolates”, de Burton. A falta de afinidade que o protagonista tem com as crianças pode muito bem ser justificada pelo fato de seu pai sempre o privar de fazer o que ele mais gosta: comer os mais variados tipos de doces. Outra coisa que não se deve deixar passar em branco é a genial citação a “2001 – Uma Odisséia no Espaço” (filmão do Kubrick): na sala de TV, um dos Oompa-Loompas assiste ao filme, e depois é curioso ver em que o monólito se transforma (também toca aquela musiquinha bem legal composta pelo Strauss)
Mas talvez o grande mérito da produção esteja mesmo na direção de Tim. É impressionante como ele conseguiu criar um universo tão surreal como a fábrica de chocolates (a direção de arte também é magistral). O tom um tanto macabro dado ao filme é interessante demais, pois escapa do que poderia ser infantil, boboca (mas ainda assim consegue ser fantasioso, mágico). Aliás, o ritmo do filme também é bem corrido, e não arrastado; quando os Oompa-Loompas entram em cena, por exemplo, é atingido o máximo de diversão (e as letras das músicas cantas por ele e suas coreografias são adoráveis).
As atuações também são bem competentes. Johnny Depp, que demonstra ser capaz de fazer qualquer papel e se sai bem (confesso que antigamente tinha um certo preconceito com ele, mas isso já foi superado), compõe muito bem Wonka. Não está irritante, faz um personagem um tanto arrogante virar bem simpático (e engraçadinho também). Freddie Highmore, melhor que em “Em Busca da Terra do Nunca, não interpreta um Charlie que se mostra um “pobre-coitado”; interessante isso. Muito bem também está Missi Pyle, como a mãe de Violet (igualmente ótima), fazendo caras e bocas divertidas, engraçadas. Porém, um dos mais geniais do elenco (talvez o mais) seja Deep Roy, como os Oompa-Loopas; fantástico ele, fantástico.
Enfim, “A Fantástica Fábrica de Chocolates”, por Tim Burton, é uma produção muito boa (quase que excelente). Entra fácil em um TOP 10 de melhores, e por pouco entra entre os cinco. Não sou capaz de dizer se é essa ou a versão de Mel Stuart a melhor (a explicação ta lá em cima, no primeiro parágrafo). E entre os filmes de Burton, não me arrisco a dizer que é o seu melhor desde “Ed Wood”, e provavelmente seu segundo melhor filme.
OBS: O Texto a seguir pode conter pequenos spoilers
“Edukators”, de Hans Weingartner, defende com unhas e dentes o que ele prega. O seu ideal é argumentado do melhor jeito possível. É anticapitalista e contra o sistema (e os personagens querem fazer a revolução). Não questiono o método deles: invadem a casa de milionários, e desarrumam tudo, mas não roubam nada (eles não querem riqueza, só dar um aviso aos burgueses: “Seus dias de Fartura Acabaram”). Os Educadores querem somente igualdade social. O diretor sabe mostrar isso muito bem.
Os amigos Jan e Peter passam a madrugada invadindo casa de milionários. Entram nela, desarrumam tudo, mas não roubam nada (só deixam um aviso, um bilhete). A namorada de Peter, Jule, deve dinheiro para um milionário, e pede para Jan (com quem acaba por ter um caso) invadir a casa do tal ricaço; e eles o fazem. Porém, uma série de complicações ocorre, acontecendo uma coisa que irá para sempre mudar as vidas deles.
O roteiro de Katherine Held e Waingartner, como disse logo no começo, defende do melhor jeito a sua idéia. Até mesmo no final, quando achamos que as coisas terminam “tudo bem”, com uma mensagem de paz entre burgueses e anticapitalistas, o espectador se depara com uma coisa que ficou na minha cabeça por algum tempo: o bilhete na parede, dizendo “Algumas pessoas nunca mudam” (e essa é a mais pura verdade). Também é interessante o modo com a trama se desenvolve, com imprevisibilidade, sempre defendendo o que prega, talvez porque eu não sabia muitos detalhes da trama. Também é bem legal quando o filme mostra que o tal milionário era igual a Jan, Jule e Peter no passado: revolucionário, libertário. Então, pensamos: “Será que lá está o passado e o futuro?”. E o bilhete na parede nos resolve a pergunta.
A direção de Waingartner também é outra coisa bem competente. A fotografia, por exemplo, não exagera na câmera trêmula, como alguns filmes indies que querem ser descolados. A narrativa também não é chata; a trilha sonora dá um ar mais movimentado ao filme, que consegue ser até mesmo tenso em vários momentos (a entrada na casa de um milionário, que muda completamente a trama, é um bom exemplo). E lá na metade do segundo ato, Waingartner acerta ao escolher a locação que será pano de fundo: a floresta dá a impressão de liberdade; estamos livres por lá, não há limites.
A química entre Stipe Erceg (Peter), Julia Jentsch (Jule) e Daniel Bruhl (Jan) também é outro ponto a ser destacado. O primeiro, talvez o pior dos atores (apesar de não estar ruim), consegue mais destaque no terceiro ato; a segunda (muito bonita ela) está bem carismática, e o terceiro, comprovando ser excelente ator (ele já tinha nos entregado uma ótimo performance em “Adeus, Lênin”), com uma atuação que não exagera nas caras e bocas; é sincera.
Enfim, “Edukators” é um interessantíssimo filme alemão. Não é chato (pelo contrário: é envolvente), defende com todas as forças seu ideal (que coisa linda), e tem atuações inspiradas. Caso fosse desse ano, certamente entraria em um TOP 10, mas como não é, resta dizer que é um das grandes surpresas produzidas no ano passado.
Bem, como não tenho nada para atualizar (nem textos e nem listinhas divertidas), coloco aqui pequenos comentários sobre alguns filmes que vi recentemente (os que vi nesse mês de agosto):
Acossado (A Bout de Souffle, 61, Dir: Jean-Luc Godard) - 5/5 (9.0)
Como disse no post sobre "Os Incompreendidos", quero conhecer mais o Cinema europeu clássico; filmes da nouvelle vague, neo-realismo italiano, etc. etc. E dando uma olhadelha na minha revista da NET (nos filmes do Telecine, mais precisamente), vi que no dia ia passar um filme do Godard: Acossado. Não desperdicei minha chance (afinal, eu tô comentando o filme aqui, não é mesmo?). OK, eu admito que achava que Godard era um tanto...tanto... superestimado. E por que? Por nada, preconceito mesmo (inexplicável, aliás). E bem, agora, tenho que admitir que ao menos o meu debut com ele foi excelente. Muita boa a linguagem adotada pelo diretor; tem um ar rebelde no filme e é bem inovadora (até mesmo para os dias de hoje). Também tem um clima noir muito bom e pitadas de romance. O roteiro (que possui a idéia inicial feita por Truffaut) também é interessantíssimo; possui diálogos muito bons e um desenvolvimento bem imprevisivel (e a cena final, com aquela pergunta de Jean Seberg; genial).
Alexandre (Alexander, 04, Dir: Oliver Stone) - 2/5 (4.5)
Não é a bomba que muitos falaram, mas é inegável que é um filme fraco, bem fraco. Oliver Stone, com sua direção, não faz nada além de uma cinebiografia ordinária. Além disso, o filme a narrativa usada por ele é cansativa; é interessante somente nas batalhas, nas outras cenas, é facilmente esquecido. Aqui sua direção de elenco horrível é horrível. Colin Farrel, nas cenas em que tem que ficar com homens (ou beija-los), se mostra constantemente desconfortavel (e o Jared Leto também está terrível; completamente inexpressivo). Já o roteiro é definitivamente uma bomba atômica. Tem a pretensão de querer ser polêmico, chocar o espectador (até novela da Globo mostra cenas de beijo entre homossexuais), e a construção de Alexandre, o Grande é fraca demais: como outras cinebiografias ("Uma Mente Brilhante" é um bom exemplo), ela tenta fazer (fracassadamente) com que o espectador tenha pena do protagonista, se esquecendo de mostrar que ele também era beberrão, tirano, entre outras coisas. A melhor coisa é realmente Val Kilme, com uma ótima atuação, e Angelina Jolie, apesar de seu sotaque, nem está tão ruim assim.
A Morte Passou por Perto (Killer's Kiss, , Dir: Stanley Kubrick) - 4.5/5 (8.5)
Dos filmes vistos pela minha pessoa do diretor Stanley Kubrick, este "A Morte Passou por Perto" é o pior dele. Mas, como podem observar pela cotação, não é, de modo algum, um filme ruim. Na verdade, é um grande filme. Também tem climão noir e uma trama bem criativa, contando com uma boa narração em off do protagonista. Uma luta de boxe dirigida com maestria por Kubrick, usando muito bem a câmera em primeira pessoa (ou então a sequencia da briga em meio aos manequins). As atuações também são bastante competentes.
Até mais e abraços; Rodrigo
Ouvindo: Kaiser Chiefs - Every Day I love You Less and Less
Foram muitas as vezes em que Frank Miller recusou a proposta de fazer um longa-metragem de uma de suas mais célebres histórias em quadrinhos, “Sin City”. Entre essas pessoas que não conseguiram levar a HQ para a telona estava Robert Rodriguez (que, de sua filmografia, só conheço mesmo “Pequenos Espiões”, e que, pelo o que eu me lembro, é divertido). Mas esse homem não desistiu. Filmou uma cena do filme, sem Miller saber, e entregou para o próprio dizendo que o filme seria daquele jeito (essa cena é a de abertura do filme). E Frank fez o certo ao aceitar o projeto: “Sin City” não filme feito somente de visual (como acontece em, por exemplo, “Capitão Sky e o Mundo de Amanhã”); tem atuações excelentes e um roteiro fantástico. E o filme em si (aí vai o trocadilho) é impecável.
John Hartigan (Bruce Willis) é um dos poucos policiais honestos de Basin City. Prestes a se aposentar, ele decide que sua última missão será salvar Nancy, uma menina de 11 anos e que está nas mãos de estrupadores. Marv (Mickey Rourke), o anti-herói da história, é um assassino de sangue-frio que decide vingar a morte de sua amada, Goldie (Jaime King). E, por fim, Dwight (Clive Owen) é um sujeito que decide se vingar do policial corrupto Jackie Boy (Benicio Del Toro) e seus capangas por eles terem mexido com as suas “garotas”.
Um dos grandes pontos fortes do roteiro de “Sin City” talvez seja os seus personagens. Alguns deles são donos de uma grande ambigüidade, outros são policiais corruptos, ou até mesmo canibais. Os dois melhores personagens que se encaixa no primeiro “tipo” são, com certeza, Marv e Hartigan. O primeiro é um anti-herói construído com perfeição e o segundo é um policial honesto que vive com dificuldade em uma cidade violenta. Mesmo esses dois agindo com certa violência, o mais legal de tudo é que o espectador entende os seus motivos (graças também aos atores que os interpretam). Jackie Boy e Dwight, mesmo não sendo multidimensionais, são outros personagens fantásticos; é delicioso ver a trajetória deles pela cidade do pecado (não pela violência mostrada nessa parte, mas pelo o que acontece nesse caminho). Outra coisa muito boa do roteiro são as histórias. Todas são excelentes e imprevisíveis.
A direção de Frank Mille e Robert Rodriguez também é maravilhosa. O que talvez chame mais atenção logo de cara seja mesmo visual, apesar de que este não chegue a ser o melhor do filme. Ela, além de transpor todo o ambiente dos quadrinhos, é, de certo modo, um personagem do filme. O preto e branco deixa a Basin City mais triste, obscura, cruel. A narrativa em off , muito comentada, é bem interessante, e, ao contrário de alguns pessoas, não achei cansativa; ela tem até um certo de charme, aliás. Na verdade, toda a estrutura narrativa é excelente. Um climão de filme noir perfeito é imposto (e trilha sonora contribui muito para isso). Sem falar que o filme até que possui um certo humor negro (nos diálogos, na verdade), presentes, em sua maioria, na história de Marv (a cena final de sua história, por exemplo).
As atuações também são ótima. Bruce Willis está perfeito como Hartigan (a única coisa que o prejudica é que ele não tem muita cara de sessentão); um homem solitário e triste por presenciar o caos de sua cidade. Mickey Rourke, muito provavelmente o melhor do elenco, mostra que não é somente um galã de filmes como “9 semanas e Meia de Amor”, e está brilhante como Marv. Ele transforma o seu personagem (como o roteiro pede) em um sujeito ameaçador, mas, ainda assim, complexo (sem falar que ele está bem carismático). Clive Owen, que pegou o personagem menos ambíguo do filme, também está ótimo, apesar de não se comparar aos outros protagonistas. Merece destaque também a ótima performance de Jéssica Alba, fazendo Nancy. Apesar de fazer uma “boa moça” no filme, interpreta com sensualidade (ou “excesso de gostosice”, como preferir) a personagem.
Enfim, “Sin City” é um filme espetacular. Fantástico roteiro e direção, e ótimas atuações fazem desse filme, sem dúvida, o melhor do ano até o momento.