A Vingança é um parto que se come frio - Parte 2. Ou...
Tarantino passou sete anos parado após fazer o ótimo “Jackie Brown” e volta com um filme dividido em dois volumes. O primeiro deste dois não é uma produção tipicamente do diretor: não há muitos diálogos e os personagens servem, principalmente, para terem parte de seus membros decapitados. Mas ainda assim deu certo: Tarantino brincou com o cinema e quebrou as regras do convencional e criou um filme fantasioso. Neste Volume 2 ocorre o oposto: os diálogos vem de forma tão comum como em outros filmes do diretor e os personagens são levados mais a sério. Fora isto, esta Segunda parte ainda funciona como uma homenagem aos filmes do mestre Sergio Leone. E o resultado? Uma obra-prima.
“A Noiva” (Uma Thurman) está de volta para realizar a sua vingança, que desta vez será realizada em terras ocidentais e não mais orientais. Agora, para finalizar sua lista, ela terá que matar Budd (Michael Madsen), Elle Driver (Daryl Hannah) e, o principal, Bill. Mas ela ainda terá que conviver com uma grande revelação.
O roteiro escrito por Tarantino possui, como coloquei no começo, sua característica mais memorável: os diálogos. Se na primeira parte estes vinham em menor escala, aqui é ocorre um tiroteio de frases, seja ela esbanjando cultura pop ou não. Um dos que mais me chamou a atenção foi aquele em que Bill fala sobre os alter-egos dos famosos super-heróis de HQ, e compara “A Noiva” com eles. Os personagens também são tratados com maior aprofundamento: aqui conhecemos melhor Bill, Budd e Elle Driver (e vendo como estes três são figuras realmente temíveis). O desenvolvimento da história também é admirável: assim como na genial primeira parte, aqui não há a inclusão de contextos bobos, feitos para “encher lingüiça”. É apenas uma história muito bem contada, e com uma criatividade imensa.
A direção de Tarantino também é excepcional. A estrutura narrativa adotada por ele, por exemplo, continua empolgante e extremamente envolvente. Mas é no terceiro ato que Tarantino surpreende o espectador ao impor uma delicadeza enorme ao filme. E quem jurava que ele dentro dele não batia um coração se enganara redondamente. Os enquadramentos impostos por ele continuam possuindo grande estilo; a dinâmica das lutas continuam incríveis (as seqüências que mostram “A Noiva” no treinamento com Pai Mei são geniais) e os movimentos de câmera aparecem em maior escala. Aliás uma cena em especial me chamou a atenção: “A Noiva” está entrando na capela onde vai se casar; a câmera de Tarantino se distancia rapidamente, focalizando as quatro pessoas que virão a realizar a tal chacina, mas a câmera fica por lá mesmo para evitar que o espectador presencie aquela terrível cena. É muito bonita também a grande homenagem que Tarantino faz aos filmes de western spaghetti (me corrijam se o nome estiver escrito de maneira errada). A trilha sonora é o que chama mais a atenção: a todo momento ouvimos músicas às vezes compostas para o filme e em outros tirados de outros filmes (no CD do filme tem muitas músicas feitas pelo Ennio Morricone).
O elenco também merece grande destaque: Uma Thurman está excelente como “A Noiva”. Com um carisma enorme, ela também se sai otimamente nas cenas que envolvem emocionalmente a personagem (como o encontro desta com sua filha). Já David Carradine foi a minha maior surpresa: ele transforma Bill em um sujeito ao mesmo tempo extremamente simpático e temível. Michael Madsen conseguiu um papel que caiu como uma luva para ele: como o Mr. Blonde de “Cães de Aluguel”, Budd é o sujeito mais legal, porém um dos mais perigosos (e Madsen faz isto com grande fidelidade). Daryl Hannah também está muito bem.
Enfim, “Kill Bill Vol. 2” é um dos 5 melhores do ano passado. Até mesmo um pouco melhor que a já excepcional primeira parte, Tarantino diminui as doses de litros de sangue e introduz ao espectador diálogos certeiros e personagens memoráveis, mas nunca perdendo o ritmo, e ainda contando com uma belíssima fotografia.
Até mais e abraços; Rodrigo
Cotação: 5/5
Ouvindo: Chingon - Malaguena Salerosa