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Punch Drunk Movies

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terça-feira, março 08, 2005

Los Angeles - Cidade Proibida

Colateral (Collateral, 04)


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Considero Michael Mann, que, como todos sabem, é o diretor deste “Colateral”, um dos melhores da atualidade. O que mais me agrada em seus filmes é uma de suas principais características: a câmera sempre na mão. Com isto, Mann impõe em seus filmes um estilo documental, e que fazem dos mesmos mais reais. E em “Colateral”, isto se repete. E, me arrisco a dizer, esta sua característica nunca funcionou tão bem. Principalmente pelo fato do roteiro de Stuart Beattie falar sobre uma coisa que poderia acontecer com qualquer um. Não me refiro ao fato em si, e sim na forma como as coisas acontecem de repente. E este talvez seja o maior trunfo de “Colateral”, somados, é claro, à uma espetacular direção de Mann.

Max (Jamie Foxx) é um homem que trabalha há 12 anos (e “temporariamente”, como chega a falar o personagem) como taxista pelas ruas de Los Angeles. Ele tem o sonho de montar uma agência de aluguel de carros (da marca Mercedes-benz, para ser mais preciso), e para que isto ocorra, ele tem o emprego como taxista. Milhares de pessoas, todas com diferentes problemas e frustrações, passam pelo táxi dirigido por Max. É uma noite comum para ele, até que um homem, chamado Vincent (Tom Cruise), entra em veículo. O último diz que tem cinco paradas a fazer durante a noite. Max reluta, mas pelo dinheiro oferecido pelo passageiro acaba por aceitar a proposta. Quando o homem faz a sua primeira parada, Max se assusta a ver que o mesmo matou um homem; descobrindo, assim, que Vincent é um matador de aluguel. Sem poder fazer nada, Max continua a dirigir o veículo, e tudo pode acontecer durante uma noite aparentemente normal.

Como falei no início, o roteiro de Beattie consegue arrancar um de seus maiores trunfos por causa, principalmente, da premissa. Não a trama em si (como também cheguei a falar), mas, na verdade, o fato de que as vidas de cada um podem tomar rumos diferentes e decisivos quando tudo está aparentemente normal. É como se nós estivéssemos andando pela rua, nossa barriga começasse a roncar, e parássemos na lanchonete ao lado para comermos. Sendo que na outra esquina acontece uma batida de carros, e você poderia estar no meio dela. Outro ponto positivo do roteiro é que o personagem de Foxx nunca se pergunta (por exemplo): “Se eu tivesse feito outra coisa, não estaria aqui com este assassino”. Max se contenta com o que está acontecendo. Não acha uma coisa boa, logicamente. Porém não fica se culpando pelo o que está acontecendo. Beattie também acerta no desenvolvimento de seus personagens: os dois protagonistas da história são pessoas ambíguas; o que transforma o filme, rapidamente, em um jogo de gato e rato. Max é uma pessoa frustrada por não realizar o seu sonho: montar um pequeno negócio. E Vincent se mostra ao longo do filme uma pessoa sem nenhum sentimento; totalmente fria.

A direção de Michael Mann, como sempre, é excepcional. Sempre impondo uma narrativa extremamente tensa ao filme, o diretor consegue envolver o espectador a todo momento, sem nunca cansa-lo. Isto se deve novamente à narrativa de Mann, que é sempre empolgante. A boa e velha característica de Mann (como já falei) é marca registrada em “Colateral”. O filme ganha um tom mais real, o que torna, conseqüentemente, a história e seu desenvolvimento (outro ponto alto do roteiro) mais crível. Outro ponto forte da direção de Mann são seus sempre excepcionais enquadramentos. Na maioria das vezes, o diretor enquadra as cenas de maneira aérea, mostrando a Los Angeles durante a noite. E o mais admirável disto é que o espectador conhece a cidade sem precisar “entrar” nela, apenas vendo suas ruas na maioria das vezes engarrafadas e seus altos edifícios. Mann também oferece ao filme uma ótima dinâmica às cenas de ação: a minha preferida é aquele que se passa dentro da boate: sem utilizar muitos movimentos de câmera, o diretor consegue fazer da seqüência uma das mais eletrizantes do filme (e olha que eu nem precisei falar da cena em que ocorre uma batida envolvendo um carro).

As performances do filme também é outro ponto positivo. Tom Cruise convence surpreendentemente como o vilão do filme: ele constrói Vincent como uma pessoa ameaçadora e sempre fria (assim como o roteiro desenvolve o personagem). Porém o maior destaque do filme em relação às interpretações é Jamie Foxx. O mesmo começara como ator cômico em um programa ao estilo do “Saturday Night Live”. Agora, fazendo um papel que exige mais dele, Foxx se sai excelente. Merecidamente, ele conseguiu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por este filme que comento (arrancando ainda uma indicação na mesma premiação, interpretando o músico Ray Charles, mas desta vez, como todos sabem, na categoria de Ator Principal). Foxx cria um Max confuso, e inseguro à media em que o tempo vai passando (já que a angustia de estar com um assassino é imensa). A química entre Cruise e Foxx também consegue ser excepcional: existem certos filmes em que tudo depende da relação em que os atores tem (como, por exemplo, no maravilhoso “Antes do Amanhecer”), e “Colateral” se sai muito bem neste quesito.

“Colateral” é, sem dúvida, um excelente filme. Não é somente um completo estudo de Vincent e Max, mas também da selvagem Los Angeles atual. E Michael Mann, juntamente com Stuart Beattie, faz isto beirando a perfeição.

Cotação: 5/5 (8.5)

Até mais e abraços; Rodrigo