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Punch Drunk Movies

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segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Scorsese, definitivamente, está de volta.

O Aviador (The Aviator)



Martin Scorsese é um grande diretor, disto todos já estão cansados de saber. Não me arriscaria a dizer que a obra-prima “Os Bons Companheiros” é o melhor filme de gangsters desde “O Poderoso Chefão”. A maioria dos protagonistas de seus filmes são pessoas que se localizam à margem da sociedade (ver “Táxi Driver” ), presenciando todos os problemas da mesma. Aqui, em “O Aviador”, a coisa é completamente diferente: o personagem central do filme, o produtor de filmes Howard Hughes, vive no alto escalão da sociedade, namora com as maiores e mais belas estrelas do cinema, entre outras coisas. Mas isto é o seu exterior. Já seu interior, caso analisemos bem, é parecido com personagens como Frank Pierce (“Vivendo no Limite”), Travis Bickle (“Taxi Driver”), Henry Hill (“Os Bons Companheiros”), e até mesmo Billy, The Butcher (“Gangues de Nova York”). Lógico que Hughes não compartilha dos mesmos problemas dos citados acima, mas é tão complexo quanto os mesmos. E tenho que admitir uma coisa: o roteiro do medíocre John Logan, assim como a brilhante direção de Scorsese, é excelente.

O filme conta a história real de Howard Hughes (Leonardo DiCaprio), um milionário produtor de cinema. Ele namora as mais belas e talentosas atrizes de Hollywood (Ava Gardner e Katherine Hepburn são dois exemplos), e seus filmes sempre são grandes produções. Porém, esta não é a sua grande paixão: Hughes é um amante da aviação. A cada avião construído, o milionário nunca se contenta com o mais veloz,ele sempre quer mais. No entanto, Hughes tem que lutar contra o aperfeiçoamento de seu transtorno obsessivo compulsivo.

Como falei logo no primeiro parágrafo, o roteiro escrito pelo meu desafeto John Logan é excelente. Seus filmes anteriores sempre possuíam falhas na trama (com as inúmeras cenas de batalha) e, principalmente, com a construção do protagonista da história (o personagem de Tom Cruise em “O Ultimo Samurai”, por exemplo, seria perfeito para um estudo, mas Logan acabou desperdiçando a idéia). Já aqui, em “O Aviador”, isto não ocorre: Hughes, vamos dizer, não é o típico personagem de uma cinebiografia. Em outros filmes biográficos, o roteirista esconde algumas coisas da vida do protagonista; e aqui isto não ocorre. Muito pelo contrário: Logan se aprofunda em seus defeitos, mas também deixando claro que os momentos mais felizes de sua vida era quando ele estava dentro de um avião. E este talvez seja o maior ponto forte do roteiro: transformar uma pessoa “famosa” em uma pessoa ambígua. Logan também se sai bem ao retratar a política daquela época: um mundo onde a corrupção e a briga pelo poder impera; além, é claro, de mostrar muito bem à Hollywood daquela época (méritos também de Martin Scorsese).

A direção de Scorsese, como sempre, é fabulosa. Apesar de em “O Aviador” não ter uma das principais características do diretor com a câmera (os enquadramentos aéreos), a sua habilidade com a mesma é demonstrada: os enquadramentos são sempre charmosos, e as cenas que se passam com Howard Hughes voando em seus aviões são excelentes e possuem uma ótima dinâmica. Os movimentos de câmera também são notáveis em sua direção: em uma seqüência, por exemplo, o protagonista está se beijando com a personagem de Cate Blanchet (a atriz Katherine Hepburn): a câmera de Scorsese tira de foco o casal, vai “deslizando” pelo chão, chega à uma sala, a câmera vai girando lentamente pela mesma e focaliza, novamente, o casal, desta vez deitados no sofá. Uma ótima cena, sem dúvida. Os closes instáveis em certas coisas (algo que me fez lembrar “Vivendo no Limite”) também são abundantes em “O Aviador”. A narrativa adotada por Scorsese também é das melhores: durante o primeiro ato, principalmente, ela é sempre elegante, lembrando muito os filmes feitos na década de 50. Já o segundo e o terceiro ato possuem uma grande intensidade (fiquei boquiaberto com a seqüência em que um avião atinge uma casa). Muitos alegaram, também, que a narrativa do diretor era sem alma, sem emoção. Não vou mentir, ela é. Porém, há um grande motivo para ela ser deste jeito: Howard Hughes não era uma pessoa feliz. Ele tinha as mais belas mulheres e uma grande quantia em dinheiro, só que por dentro ele era vazio (também por causa de seu transtorno obssessivo compulsivo, que, de certa forma, atrapalhou a sua vida).

As atuações do elenco também são ótimas. A grande surpresa foi em relação à Leonardo DiCaprio: antes de assistir à este “O Aviador” eu não poderia afirmar nada: gostei muito do rapaz em “Prenda-me se for Capaz”, mas, por outro lado, o detestei em “Gangues de Nova York”. A confirmação de que ele é ou não um ator talentoso vinha somente com este “O Aviador”. E, surpreendentemente, ele se sai excelente: interpretando com grande fidelidade seu personagem, DiCaprio se encontra livre em seu papel, nota-se que ele se esforça bastante. E, felizmente, ele consegue. Já Cate Blanchet, comprovando ser uma das melhores atrizes da atualidade (além de ser uma das minhas favoritas, também), ela constrói uma Katherine Hepburn sempre carismática, e fazendo um sotaque perfeito e elegante. Já a outra “Cate” (desta vez com “K”, e com o sobrenome Beckinsale) não mostra à que veio: ela não está um desastre, mas o grande problema é que a moça não tem nenhuma expressão. Já Alan Alda não se destaca muito. Talvez a sua indicação ao Oscar seja mesmo pelo conjunto da obra, já que neste “O Aviador” ele não está nada de excepcional, mas, ainda assim, bem.

“O Aviador” é, enfim, uma pequena homenagem ao cinema. Scorsese, como um cinéfilo, dirige este filme com uma grande paixão. A briga no Oscar fica entre ele e Eastwood, entre “O Aviador” e “Menina de Ouro”. No segundo, se um destes dois ganhar fico feliz; afinal ambos são excelentes. Mas, no primeiro, convenhamos, já está na hora de Scorsese ganhar uma estatueta dourada.

Cotação: 5/5 (9.0)

Até mais e abraços; Rodrigo