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quarta-feira, janeiro 12, 2005

Robert Zemeckis consegue inovar na animação "O Expresso Polar"

O Expresso Polar

Ao entrar no Cinema para assistir à “O Expresso Polar”, terceira parceria do diretor Robert Zemeckis com Tom Hanks, estava com receio de que o filme fosse muito meloso, e não muito emocionante, e que o filme quisesse, a todo instante, arrancar lágrimas do espectador, e não comover este naturalmente. Fico feliz em dizer que, enquanto ao meloso estava certo, mas enquanto às outras que falei estava profundamente enganado: “O Expresso Polar” é um filme que emociona sem querer arrancar lágrimas, é meloso, sim, mas não é um meloso que irrita, e, sim, um meloso que nos parece belo. È um filme que é tecnicamente brilhante, mas não é um filme emocionalmente frio, e, sim, um filme belo, e que, provavelmente, irá concorrer ao Oscar de Melhor Animação (ao lado, provavelmente, do fraco “O Espanta Tubarões”, do ótimo“Shrek 2”, e do excelente “Os Incríveis”, e talvez o filme “Bob Esponja” caso tenha cinco indicados).

É véspera de Natal, o protagonista da história (seu nome não é revelado em momento algum de “O Expresso Polar”; e que ficará conhecido aqui como “o garoto” ou como “nosso herói”) está deitado em sua cama. Ele é uma pessoa, que com o tempo, deixou de crer no Papai Noel: ele não tira mais fotos nem escreve cartas para o Velhinho. O nosso herói ouve um barulho e vai para fora de casa conferir o que é. Ele se depara com um enorme trem, denominado Expresso Polar, que tem como destino o Pólo Norte. O condutor deste o chama para entrar no trem. O nosso herói fica inseguro, mas acaba por entrar no veículo. Lá, ele se encontra com outras crianças que, assim como ele, não crêem na magia do Natal ou no Papai Noel. Ele faz fortes amizades, inclusive com o próprio condutor do trem, participa de aventuras, e conhece a verdadeira importância do Natal.

Baseado em uma obra de Chris Van Allsburg, o roteiro foi escrito por Robert Zemeckis e William Broyles Jr. Repleto de magia e aventura, o roteiro possui um personagem que me chamou bastante a atenção: o homem que mora em cima do vagão. Este é um personagem muito bem caracterizado, e que me chamou a atenção justamente por Zemeckis e Broyles, não mostra, diretamente, quem este personagem realmente é. Nota-se que este personagem é de grande importância para uma melhor compreensão da trama, então, decidi refletir sobre ele um pouco mais. Depois de poucos minutos, a conclusão que tirei é que este “homem que mora em cima do vagão” (seu nome também não é revelado, assim como o do protagonista) pode ser considerado como o “espírito natalino”. Muito clichê? Sim; mas em produções como este “O Expresso Polar” isto não pode ser considerado um erro. Outro ponto forte do filme é outra coisa manjada: a belíssima mensagem que o filme traz consigo: “é sempre preciso acreditar na magia do Natal”. Como falei, é uma mensagem clichê, mas que é também encantadora, e que se torna mais bonita após a competente direção do também roteirista Robert Zemeckis (irei falar sobre ela mais detalhadamente no próximo parágrafo). Outro grande ponto positivo do roteiro de “O Expresso Polar” é que os personagens estão sempre passando por problemas ao longo da viagem: o melhor de tudo é que estes problemas são resolvidos com dificuldade, o que torna a construção da história ainda mais real e crível. Isto também faz com que os personagens estejam sempre passando pelas mais diversas aventuras, o que torna a viagem ainda mais interessante. Mas o roteiro do filme não é perfeito. Seu maior defeito é a infantilidade da trama, até sua mensagem para ser meio bobinha apesar de interessante.

A direção é feita pelo ganhador do Oscar, Robert Zemeckis. Com certeza, o que mais chama a atenção nesta é já tão falada técnica de “captação de movimentos”: mais conhecida por ser usada na projeção de Gollum, da trilogia “O Senhor Dos Anéis”, “O Expresso Polar” se mostra extremamente inovador ao ser, provavelmente, o primeiro a ser rodado todo desta maneira; o que faz com que a direção de Zemeckis, em relação a este aspecto, seja ainda mais original. Aliás, Zemeckis também prova em “O Expresso Polar” ser um excelente diretor de elenco, pois ele conseguiu com que os atores trabalhassem de uma competente forma contracenando somente com fundo azul. Mas, esta técnica não é somente boa por isso: ela também é irrepreensível: as dobras da roupa do garoto, o trem; tudo se aproxima da perfeição. Outro grande ponto forte de sua direção é a sua habilidade com a câmera. Em uma seqüência, por exemplo, Zemeckis filma a “jornada” de uma passagem para Expresso Polar (o nosso herói tenta mostrar esta passagem para o condutor do trem, pois ele se esqueceu de “picotar): bastante similar à trajetória da pena em “Forrest Gump”, Zemeckis filma com maestria toda a jornada. Outra seqüência que destaca a habilidade do diretor com a câmera, é a cena em que o trem está atravessando uma colina (ou ladeira, como quiser), e o mesmo não consegue diminuir a velocidade: como o condutor, o nosso herói e sua amiga estão na parte da frente do trem, Zemeckis filma em primeira pessoa, e isto faz com que o espectador se sinta como o nosso herói, a amiga deste e o condutor. E o resultado final da direção é absolutamente admirável.

Enquanto às atuações, estas já são um caso a parte. Como falei, os atores contracenam somente com um fundo azul, e todos os seus movimentos são captados por meio de raios-infravermelhos, e isto permite que, seja o ator grande ou pequeno, este possa interpretar diferentes papéis. E é isto que ocorre aqui, em “O Expresso Polar”: o sempre competente Tom Hanks vive seis papéis diferentes aqui: o condutor do trem; o nosso protagonista; o pai do nosso protagonista; papai Noel; e o Andarilho. E nas versões em que ele mais se destaca (respectivamente, o condutor do trem; o nosso herói; papai Noel; e o Andarilho), o espectador acredita, por exemplo, que quem interpreta o nosso herói é realmente um menino de 10 anos, ou seja, Hanks vive vários personagens de uma maneira totalmente diferente, tanto nos seus movimentos, como na dublagem dos personagens. Tom Hanks já comprovou ser um ator excepcional, e a sua performance em “O Expresso Polar” é só mais uma para entrar na sua lista de “excelentes atuações”. O resto do elenco também está muito por ter feito um competente trabalho.

Quando “O Expresso Polar” chega ao fim, a sensação que o espectador sente é de grande bem-estar. É verdade que o filme é meio infantil, como cheguei a falar, mas isto não impede do filme ser ao mesmo tempo tecnicamente perfeito e emocionante.

Cotação: ****/***** (Ótimo)

Até mais e abraços; Rodrigo